Os 46,91 quilômetros de implantação de asfalto têm início na divisa com o Mato Grosso do Sul, no distrito de Porto Camargo, em Icaraíma, até Umuarama. Investimento total é de R$ 232,8 milhões, em uma parceria do Governo do Estado com o governo federal e Itaipu
A imensa placa com detalhes em azul e verde virou ponto de parada para os mais empolgados. Há motivo. O carimbo “Paraná em obras”, em um dos marcos da Estrada da Boiadeira, formalmente batizada de BR-487, é a realização de um sonho que o Noroeste do Paraná já tinha aberto mão. Enfim, para tormento dos descrentes, a famosa rodovia que liga o Mato Grosso do Sul a Campo Mourão, passando por Umuarama e Cruzeiro do Oeste, vai sair do papel. Com direito a asfalto, iluminação, tinta, sinalização e tudo mais a que tem direito.
“Meu pai veio para cá há 55 anos, do interior de São Paulo, para comprar um terreno. E desde essa época ele já falava dessa tal Estrada da Boiadeira, que passaria bem perto do sítio. De lá para cá o projeto mudou umas 50 vezes e nada. Só agora que realmente está acontecendo”, revela a comerciante Adelzira Martins Teixeira, dona de uma vistosa loja de roupas, brinquedos, utensílios e um pouco mais, em uma das esquinas mais vivas da pequena Icaraíma, cidade de pouco mais de 7.600 habitantes, o último ponto paranaense antes da divisa com o Mato Grosso do Sul.
A mudança de humor da empresária veio quando os primeiros quilômetros de asfalto substituíram a terra vermelha batida, em 2020, e reflete o estado de espírito que tomou conta dos moradores dos municípios que serão beneficiados pela travessia. “Vai melhorar muito a nossa vida”, afirma Maria Madalena da Silva Emerim, braço direito da dona Adelzira na loja de armarinhos e uma entusiasta da nova Boiadeira. “Agora vai”, emenda.
MARCO IMPORTANTE. A obra atingiu um marco importante agora nos primeiros dias de fevereiro. Está 80% concluída e, salvo algum problema muito fora da curva, ficará pronta no segundo semestre deste ano. “Há mais de 50 anos que se fala desta estrada. Quando assumi o governo, em 2019, prometi que ia tirar esse sonho das pranchetas. Está aí, quase pronta, uma ligação com potencial fantástico de fomentar o turismo e resultar em mais desenvolvimento para o Noroeste. E não há mais dúvidas de que infraestrutura é essencial para gerar mais empregos”, destaca o governador Carlos Massa Ratinho Junior.
ESTRUTURA. A restauração, implantação e pavimentação da Boiadeira é uma das intervenções mais emblemáticas em andamento no Paraná e só perdeu o status de lenda graças à costura política que resultou no convênio entre o Governo do Estado, por meio do Departamento de Estradas de Rodagem (DER/PR), o governo federal, via Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), e a Itaipu Binacional.
“A proposta do Corredor da Boiadeira é antiga. Quando minha família chegou aqui, em 1957, se falava que ficaria pronta em 1962. E veja como são as coisas. Só agora, quase 60 anos depois, é que está sendo executada”, conta o prefeito de Icaraíma e presidente da Associação dos Municípios de Entre Rios (Amerios).
Com a experiência de quem lidera o grupo de 23 cidades e cerca de 500 mil pessoas afetadas diretamente, ele elenca as vantagens que acompanham a transformação da Boiadeira. “Mais da metade da obra é aqui em Icaraíma. Para nós vai movimentar e incentivar o turismo, possibilitando um novo acesso à prainha de água doce que temos aqui. E a partir daí mexer com a economia, o comércio, gerar emprego”, afirma.
“Sem contar também o barateamento dos custos para quem precisa escoar à safra”, emenda Oliveira, estimando em mais de 30 minutos a economia de tempo para quem precisa vencer os 85 quilômetros entre Icaraíma e Umuarama. “Médico, trabalho, estudo… Dependemos muito de Umuarama”, diz Maria Madalena.
“Esse convênio revela a preocupação do Governo do Estado com o Noroeste. O governador Ratinho Junior abraçou a causa, se mostrou um grande municipalista, que olha para todas as regiões do Paraná”, reforça o prefeito.
DIVISÃO POR LOTES. A Boiadeira foi dividida em três lotes e as obras atuais fazem parte do chamado Lote 1. O DNIT está concluindo o chamamento da empresa que venceu a licitação do Lote 2, entre a Serra dos Dourados e Cruzeiro do Oeste. Serão 37 quilômetros de obras, passando pela localidade de Lovat e coexistindo com a PR-323.
Essas conexões alcançam o Lote 3, o primeiro a sair do papel, em 2013, entre Cruzeiro do Oeste e Campo Mourão. Há expectativa de encerrar a revitalização da Boiadeira nos próximos cinco anos, com mais de 150 quilômetros no Paraná. Essa será uma das principais ligações do Paraná com o Mato Grosso do Sul, os dois maiores produtores agrícolas do País.
“Tudo isso se reflete nos custos logísticos da produção. O ganho de eficiência no transporte representa uma transformação para a região”, afirma Ratinho Junior.
BIOCEÂNICO. A rodovia ligará o Noroeste do Estado à cidade sul-mato-grossense de Porto Murtinho, ponto de conexão com o chamado Corredor Bioceânico, projeto multimodal que pretende unir os portos brasileiros de Paranaguá e Santos (SP) aos portos do Norte do Chile, no Oceano Pacífico.
A pavimentação da Boiadeira também possibilitará a interligação com uma rodovia de mais de 2,4 mil quilômetros entre Campo Grande (MS) e o Porto de Antofagasta, no Chile, reduzindo em até duas semanas o tempo de viagem das exportações do Centro-Oeste do Brasil até países como China, Japão e Coreia do Sul, e a ajudará na atratividade de novos e importantes mercados do Pacífico como Indonésia, Filipinas e Austrália.
PARCERIA. O projeto da Estrada da Boiadeira faz parte de um conjunto de obras financiadas pela margem brasileira de Itaipu e executadas pelo Governo do Estado, em um pacote que soma R$ 1,4 bilhão em investimentos. Há também a construção da Ponte da Integração Brasil-Paraguai, entre Foz do Iguaçu e Presidente Franco; a duplicação da BR-469, a Rodovia das Cataratas, e a ampliação da pista do Aeroporto Internacional do Iguaçu, também em Foz; o Contorno de Guaíra; a duplicação do Contorno Oeste e da BR-277, em Cascavel; a revitalização da Ponte Ayrton Senna, em Guaíra; a implementação de iluminação viária em trechos da BR-277, na região Oeste; e a ligação entre Ramilândia e Santa Helena.
“Era tudo o que a gente precisava”, fecha dona Adelzira.