Por Anderson Pelói
Sensação de estar em uma cena de filme ou caminhando em outro em planeta. É mais ou menos assim que nos sentimos em cima do Monte Roraima.
Ir ao Monte Roraima não é como uma viagem de férias qualquer que você diz se “desconectar de tudo”. Quando eu soube que não existiria sinal algum de celular e internet, de fato achei que estaria em total desconexão. Porém, estando lá, entendi que era ao contrário, que o monte é justamente onde a conexão acontece.
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A verdadeira conexão – consigo mesmo, com a natureza, com a mais pura energia do universo, com tradições e crenças e principalmente com Deus. O Roraima é um lugar totalmente primitivo que parou no tempo, livre de qualquer interferência da sociedade atual.
Subir o Roraima foi muito mais do que cansar as pernas e maravilhar-se com paisagens incrivelmente sensacionais. Foi como voltar às origens da Terra, da vida, do ser, de si. Foi entrar em profunda sintonia consigo mesmo. Eu não sou muito de sonhar durante o sono, mas todas as noites em cima do Roraima eu tive sonhos extremamente significantes com pessoas que já partiram. E hoje ao lembrar disto, é como se os sonhos tivessem sido reais.
Bom, vamos falar um pouco do Trekking para o Monte Roraima. Para quem gosta de trilhas, travessias e expedições, sem dúvidas o Monte Roraima faz parte da lista de destinos.
Localizado na fronteira entre Brasil, Venezuela e Guiana, o local é um destino cobiçado para quem busca se aventurar e ter uma experiência inesquecível em um lugar cheio de histórias e lendas. O acesso ao Monte Roraima se dá pelo lado da Venezuela, onde iniciamos o Trekking, guiados por uma equipe local, formada em sua maioria por índios.
Foram 3 dias de trekking até acessar o cume do Monte Roraima, com paisagens de tirar o folego. Durante todo o percurso na ida sempre avistávamos o Monte Roraima e seu “irmão” o monte Kukenan.
O Monte Roraima é constituído de um tepui (platô), uma montanha em formato de mesa com uma área plana rochosa bastante elevada, cercada de penhascos que chegam a 1000 metros de altura, o que o torna ainda mais desafiador.
O planalto acima do platô apresenta um ambiente totalmente diferente da floresta tropical e da savana que o cerca. O clima é bastante úmido, com riachos e cachoeiras, formações rochosas incomuns, cavernas e diversas plantas endêmicas incluindo espécies de plantas insetívoras (carnívoras), orquídeas e bromélias.
A sensação é de caminhar por um jardim o tempo todo. É de fato. Quando chegamos ao cume do Monte Roraima, acampamos em um local onde eles chamam de “Hotel Principal”, um elevado rochoso que forma uma espécie de caverna. Passamos a noite, e no outro dia seguimos para outro “Hotel”, o do Quati, que fica no lado brasileiro. Passamos pela tríplice fronteira, divisa entre os países da Venezuela, Brasil e Guiana.
Durante todo o percurso é possível caminhar admirando os lindos cristais que existem lá, porém existem locais onde a concentração de cristais é enorme, chamados de vale dos cristais, lugar surreal!
No outro dia, fomos em direção ao lado da Guiana, onde a paisagem muda novamente, repleta de riachos, lagos e uma vegetação extremamente diferente.
Seguimos até o Lago Gladys, atração que fica no extremo Norte do Monte Roraima. Ele é cercado de rochas que formam uma bela paisagem com muito verde ao redor e uma piscina natural que se forma abaixo das pedras. Na volta, aproveitamos para acessar o ponto mais alto do lado brasileiro, o que o torna a sétima montanha mais alta do Brasil. No último dia no topo do monte, visitamos a “Jacuzzi”, piscinas naturais de águas verdes, extremamente cristalinas!
Passamos quatro dias no platô, e a cada hora a paisagem mudava, vivíamos todos os climas possíveis em um único dia! O Monte Roraima tem seu clima próprio, e muda a todo instante. Na descida, passamos novamente pelo Paso de Las Lágrimas, como havia chovido no dia anterior, a cachoeira estava bem forte, nos proporcionando um super banho gelado!
Conhecer o MONTE RORAIMA foi uma experiência surreal. Foi muito mais do que caminhar e acampar, foi estar espiritualmente aberto, simplesmente esquecendo das coisas que tem – bens materiais, pessoas, trabalho, obrigações ou amarras que nós mesmos criamos – e dá espaço apenas para o ser. Foi bacana perceber o quanto no fundo é isso que realmente importa.
Para os amantes de montanhas, ao chegar no pico é normal dizer que o conquistou. Nesta expedição eu tive um sentimento bem diferente. Quem me conquistou foi o Monte Roraima, e sem que ao menos eu percebesse.
Por fim, estando em um lugar cercado de tantas lendas, crenças e misticismo, sem dúvidas a minha maior conexão foi com Deus. É possível vê-lo em cada detalhe daquele lugar, o quanto Ele foi detalhista e exigente com relação à beleza. Lá não havia interferência da sociedade com suas ideias e costumes, apenas a perfeita criação em seu estado mais puro.