No Brasil, a campanha do Janeiro Branco foi idealizada em 2013 por um grupo de psicólogos mineiros, como uma proposta de abrangência geral no universo da saúde, no comportamento emocional e nas relações interpessoais, para intensificar a promoção da saúde mental.
O projeto de Lei nº 116/2017 de autoria do deputado Requião Filho (PT), transformado na Lei estadual nº 19.430/2018, que instituiu o Janeiro Branco com o objetivo de trazer, para o plano normativo, a questão da saúde mental a ser priorizada, debatida e estruturada pelas políticas públicas do estado do Paraná em um momento em que as taxas de depressão, ansiedade e suicídio têm crescido de forma exponencial em todo mundo.
O deputado Requião Filho (PT) explicou um pouco sobre a urgência da campanha, especialmente sob os efeitos recentes pós-pandemia. “Essa lei surge para trazer a consciência das pessoas sobre doenças mentais, principalmente a depressão. A depressão que é tratada por alguns como falta de fé ou por outros como falta de trabalho ou de ocupação não é levada a sério. Mas a depressão é uma doença real que atinge milhares de pessoas no Paraná e no Brasil e ela deve ser tratada de forma séria para que as pessoas se sintam encorajadas e tenham a consciência de que depressão não se cura sozinha. É necessária a busca de ajuda profissional e às vezes até mesmo uma ajuda química para vencê-la e se acertar”.
“Hoje em dia, todo mundo publica nas redes sociais só o lado bom, está todo mundo muito feliz, todo mundo muito bem, todo mundo cheio de filtro, com a cara boa, ninguém põe o que deu errado, ninguém coloca aquilo que não deu certo, então as pessoas, principalmente os jovens, se comparam a esses falsos ídolos que são vendidos na internet como perfeitos, e isso a gente precisa combater, é impossível estar 100% do tempo bem. Ninguém trabalha 24 horas por dia, 7 dias por semana sem cometer erros, mas a internet vende essa perfeição, inalcançável, utópica. E isso faz com que uma geração inteira busque algo que eles jamais vão conseguir atingir. Vai gerar frustração, vai gerar também essa ansiedade e pode gerar a depressão. Por isso é importante que a gente traga esse assunto. Para que essa nova geração, que não está tão acostumada a lidar com a frustração, possa tomar consciência de si mesma, antes da mais nada”, explicou o deputado Requião Filho.
Sobre políticas públicas em atenção à saúde mental dos paranaenses, o deputado Requião Filho pontuou que “nós deveríamos ter mais políticas de saúde pública mental no Paraná. Psicólogos nas escolas, nas instituições como a Polícia Militar, a Polícia Civil, dentro da própria área de saúde. O próprio Estado ignora a importância do apoio psicólogo, do apoio de um psicólogo para os seus funcionários. O Estado praticamente ignora essa semana do Janeiro Branco, mas nós fazemos a nossa parte e tentamos, através das próprias redes sociais, que são um dos causadores destes problemas, transformar essas redes em algo positivo”.
Pós-pandemia
O estudo One Year of Covid-19, realizado pelo Instituto Ipsos, apontou que 53% das pessoas entrevistadas dentro de um grupo amostral no Brasil dizem ter piorado a condição mental desde o início da pandemia, e dentre os 30 países participantes da pesquisa, o Brasil ocupou o quinto lugar em relação às maiores consequências da doença na saúde mental da população.
A Ipsos foi a primeira instituição de pesquisa do mundo a aderir ao Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU), com o compromisso de realizar pesquisas voltadas aos direitos humanos, trabalho, ambiente e combate à corrupção.
Desde sua idealização, campanha Janeiro Branco enfatiza ações capazes de promover saúde mental, como políticas públicas específicas para essa área e condições sociais dignas de existência; práticas de exercícios físicos; autoconhecimento; qualidade de vida; contato com a natureza; autonomia; sentidos próprios de vida, entre outros fatores que possam trazer bem-estar.
Para 2024 a campanha nacional escolheu o tema: “A vida pede equilíbrio”, estimulando a melhoria nas relações humanas, o enfrentamento e combate do estigma sobre os adoecimentos mentais e a valorização e fortalecimento de políticas públicas.
Ações preventivas
A doutora Carmela Regina Cabral Brocher, especialista em medicina do trabalho destacou que “a campanha Janeiro Branco é justamente uma referência ao início de um novo ano, onde temos uma página em branco para organizar e planejar todo o ano que se inicia, por isso colocar a saúde mental em prioridade justamente para prevenir outras doenças mais comuns e que muitas vezes são decorrentes da instabilidade mental. Por isso é muito importante a prevenção e assim que sentir algum sinal de sintomas, procurar um profissional adequado”.
O conselheiro e coordenador da Comissão de Comunicação Social do Conselho Regional de Psicologia do Paraná, psicólogo Andrey Santos Souza falou sobre os problemas sociais que têm afetado a estabilidade mental das pessoas atualmente. “Por mais que tenhamos passado pela pandemia, que oficialmente já tenha encerrado, os danos que ficaram do período, afastando as pessoas do contato social, da presencialidade, ainda estão afetando a vida de cada um. Percebemos isso em todos os níveis de ensino, nas redes de trabalho, as pessoas demonstram maior dificuldade de interação simples, e isso às vezes acarreta aí problemas psicológicos, que passam também por outras condições, dificuldades relacionadas à renda das famílias que diminuíram ou a menos acesso à educação, a cultura, outros serviços básicos para a vida humana, então infelizmente os índices de disfunções mentais têm sim aumentado. É importante conscientizar em janeiro, tanto quanto é importante conscientizar o ano todo a respeito disso. O Conselho Federal de Psicologia tem trabalhado com a perspectiva de uma campanha cujo título é Saúde Mental de Janeiro à Janeiro, justamente para que a gente não deixe de lado quando o ano avança, e por entender que são muitas as frentes de atuação, uma vez que todo o sofrimento psicológico é multifatorial, nunca é uma causa única. Quando o incômodo parece já não mais do cotidiano é um alerta para procurar ajuda”.
Alerta vermelho em relação a nossa saúde mental
Os Conselhos Regionais de Medicina e de Psicologia do Paraná, assim como a Secretaria de Estado da Saúde (SESA) participam da Campanha Janeiro Branco e indicam como saber se estamos bem com a nossa saúde mental.
Na maioria das vezes, dedicamos nosso tempo e pensamentos a elementos externos a nós, dessa forma, esquecemos de olhar para o que mais importa: a nossa vida. Logo, deixamos de praticar o autocuidado e não nos importamos o suficiente com os sentimentos que se encontram dentro de nós.
Para ter uma vida estável é necessário equilíbrio. No entanto, para alcançá-lo precisamos estar atentos às vertentes físicas e mentais do nosso corpo. Nosso psicológico é capaz de nos desestabilizar de diversas maneiras, logo, quando deixamos de cuidar dele, podemos acabar paralisados, sem perspectivas.
O desânimo e a apatia são sintomas significativos e que emergem o indivíduo em uma tristeza profunda. Outra característica é o isolamento, pois a socialização traz efeitos positivos para a psique do indivíduo e a falta dela pode deixar a pessoa deprimida. Quando estamos esgotados psicologicamente somos propensos a ficar mais estressados. Situações que antes eram normais para nós podem se tornar insuportáveis de ser vivenciadas.
Noites mal dormidas e falta de sono podem significar que seus níveis de ansiedade estão mais altos do que o normal. A insônia significa que nosso corpo não se permite descansar por algum motivo, e muitas vezes, ele pode ser psicológico. A falta ou excesso de apetite também pode indicar o descontrole emocional. Enquanto a falta de apetite é comum nos momentos de tristeza e apatia, o excesso pode estar relacionado aos altos níveis de estresse e ansiedade.
Se você se identifica fortemente com algum destes sintomas, talvez seja a hora de procurar por auxílio com algum profissional especializado. Atualmente no estado do Paraná, a Linha de Cuidado em Saúde Mental é composta por diversos equipamentos da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). São 153 Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), em suas diferentes modalidades, cinco Unidades de Acolhimento (UA), sete Serviços Integrados de Saúde Mental (SIMPR), que é a conjunção de um CAPS AD III e uma UA de âmbito regional.