A estimativa da safra 19/20 divulgada pelo Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento indica que a produção total de grãos no Paraná poderá chegar a 41,6 milhões de toneladas em uma área de quase 10 milhões de hectares.
Esse volume é 16% superior ao da safra 18/19, quando foram produzidas 36 milhões de toneladas.
O relatório comprova uma safra de soja recorde no Estado, próxima a 20,7 milhões de toneladas. Também houve melhora na avaliação do milho de primeira safra. “Além disso, confirma-se uma área próxima de 2,3 milhões de hectares para o milho da segunda safra, com cerca de 14 mil hectares a mais do que indicava o relatório do mês passado”, avalia o chefe do Deral, Salatiel Turra. A safra de grãos de verão mantém-se acima de 24,6 milhões de toneladas.
A estiagem histórica no Paraná, – a baixa precipitação já dura dez meses, segundo o Simepar – deixa os produtores em alerta, ainda que a produção estimada tenha melhorado. “A colheita da segunda safra de feijão, que começa a acelerar, traz uma perspectiva de produção em torno de 334 mil toneladas, menor do que o avaliado anteriormente, como reflexo da seca, já que o feijão é uma cultura muito sensível às variações de temperatura”, diz o secretário estadual da Agricultura e do Abastecimento, Norberto Ortigara.
Com o início da semeadura dos cereais de inverno, consolidou-se uma estimativa de área 6% maior que no ano anterior para essas culturas, com 1,4 milhão de hectares. Se o clima colaborar, o Paraná pode ter uma recuperação da produção, estimada em 4,3 milhões de toneladas, volume 58% superior ao da safra 18/19.
“De maneira geral, o Estado terá uma safra de grãos importante mesmo neste momento de crise profunda, em que outras cadeias enfrentam dificuldades. Os dados mostram que, em que pese a pandemia e a seca, a safra será significativa”, acrescenta Ortigara.
SOJA
O relatório mostra que a colheita da soja está concluída, e a produção atingiu 20,7 milhões de toneladas, volume recorde para o Estado, mesmo com os problemas climáticos no início do plantio. As chuvas, embora reduzidas, foram suficientes para uma boa produção na maioria das regiões. A área de 5,47 milhões de hectares é semelhante à da safra 18/19. Estima-se uma produtividade de aproximadamente 3.800 kg/hectare.
Até agora, 74% da produção está comercializada, um índice expressivo se comparado ao do ano passado, que era de 44%. “A valorização do dólar contribuiu para isso, pois tornou a soja brasileira mais atraente no mercado externo. E a China, nosso maior consumidor, aproveitou esse momento”, explica o economista do Deral, Marcelo Garrido.
Assim como a produção, o preço da soja tem bons indicativos no relatório deste mês. Na semana passada, a saca de 60 kg estava sendo comercializada a R$ 88,00, preço 33% maior do que no mesmo período do ano passado, quando o preço pago ao produtor era de aproximadamente R$ 66,00.
A segunda safra de soja, estimulada pela ampliação do calendário de plantio, de acordo com a Portaria 342/2019, está próxima a 100 mil toneladas numa área de 39 mil hectares.
MILHO PRIMEIRA SAFRA
A colheita da primeira safra está praticamente encerrada e destaca-se por um ganho de 100 mil toneladas sobre a estimativa inicial, impulsionado pela produção acima do esperado em núcleos regionais como Ponta Grossa, Curitiba e Guarapuava.
A produção está estimada em 3,5 milhões de toneladas em uma área de aproximadamente 353 mil hectares. Apesar de pequena, esta é considerada uma boa safra.
MILHO SEGUNDA SAFRA
A segunda safra de milho, por outro lado, sofreu com os fatores climáticos. A produção está estimada em 12,2 milhões de toneladas em 2,3 milhões de hectares. Apesar do incremento de área, Paraná registrou perda de 5% na estimativa de produção – em torno de 600 mil toneladas, principalmente nos núcleos regionais de Cascavel e Toledo.
De acordo com o técnico do Deral, Edmar Gervásio, a seca é a principal responsável pelas perdas. “Ainda assim, trata-se de um volume expressivo que, considerando as duas safras, soma 15 milhões de toneladas. Além disso, preços compensam a queda da produção”, diz. Nessa semana, a saca de 60 kg foi comercializada em média por R$ 37,00, valor semelhante ao da semana anterior, mas que ainda assim representa um valor rentável para o produtor.
A produção brasileira, estimada em 100 milhões de toneladas anteriormente, teve uma redução de 5 milhões, resultado das perdas em estados como Rio Grande do Sul, Goiás e Mato Grosso. “Embora isso reflita no abastecimento nos próximos meses, a provável queda no consumo durante a pandemia pode neutralizar o impacto da produção reduzida”, explica Gervásio.
TRIGO
O trigo tem 7% dá área plantada, um índice considerado razoável, se comparado ao do ano passado, quando a cultura também sofreu os impactos da seca. O plantio concentra-se, neste período, especialmente no Norte do Estado. “Se o Paraná tiver chuvas, isso pode ajudar a acelerar o plantio nas regiões Norte e Oeste”, avalia o engenheiro agrônomo do Deral, Carlos Hugo Winkcler Godinho. A área estimada mantém-se em aproximadamente 1 milhão de hectares, e a expectativa de produção é de 3,5 milhões de toneladas.
Os preços do trigo estão num patamar elevado, próximo a R$ 60,00 a saca de 60 kg. “No entanto, esse valor não é tão atrativo quanto o do milho. Assim, o milho não perde área para o trigo. Além disso, a cultura do milho é mais segura para os produtores, com uma qualidade menos sensível aos fatores climáticos”, explica Godinho.
O abastecimento não deve enfrentar maiores problemas. Porém, neste período de entressafra, o Paraná pode ter dificuldade de importar o cereal de seu principal parceiro comercial, a Argentina, onde a baixa oferta e a seca prejudicam a comercialização. Se o Paraguai não tiver oferta relevante, o Estado tende a buscar o produto nos EUA, e o fator cambial pode encarecer o trigo.
FEIJÃO SEGUNDA SAFRA
O plantio de feijão está concluído no Paraná, e a colheita iniciou entre o final de março e início de abril. Neste período, os produtores colheram 14% do total cultivado, totalizando 31 mil hectares. A colheita está mais avançada nos núcleos regionais de Pato Branco, Guarapuava, Francisco Beltrão, Ponta Grossa e Irati.
Devido à estiagem, as estimativas iniciais mostram perdas de 24% na produção, o que representa 104 mil toneladas de feijão a menos disponíveis no mercado. Espera-se agora uma produção de 334 mil toneladas, uma redução de 7% em relação à safra 18/19, e a área estimada é de 222 mil hectares, 11% menor.
De acordo com o engenheiro agrônomo Carlos Alberto Salvador, a tendência é de que a perda se acentue nos próximos meses. Agora, o rendimento nas primeiras áreas colhidas é de 1.395 kg/hectare. “Vale lembrar que a média de produtividade da primeira safra foi de 2.122 kg/hectares. Essa diferença deve influenciar os preços”, diz.
Com relação aos preços, a saca de 60kg de feijão-cores está sendo comercializada por R$ 314,23 e o feijão-preto por R$ 198,60. “Na comparação com os últimos três meses, ocorreu uma alta significativa de 70% para o feijão-cores e 57% para o feijão-preto. O aquecimento dos preços se deve à incerteza na oferta de um produto de qualidade e em quantidade na produção da segunda safra”, explica Salvador.
A avaliação do Deral indica que 37% das condições do campo das lavouras estão boas, 42% medianas e 22% ruins, comprometendo a qualidade e a produtividade das lavouras, como reflexo da falta de chuvas.
MANDIOCA
O clima seco prejudica a colheita da mandioca no Paraná, principalmente nos núcleos regionais com produção mais expressiva, como Paranavaí, Toledo, Umuarama e Campo Mourão.
Até o momento, a qualidade e produtividade nos 23% da área colhida estão satisfatórias. No mesmo período do ano passado, o índice era de 21%. Nas últimas semanas, no entanto, os produtores observaram um aumento nos custos de produção, em decorrência da mão de obra.
A área da safra 19/20 está estimada em 141,6 hectares, aumento de 4% na comparação com a safra anterior, e a produção esperada é de 3,4 milhões de toneladas, 9% a mais do que na safra 18/19. Segundo o economista Methodio Groxko, a mandioca registrou preços muito bons nos últimos anos, mas a pandemia do novo coronavírus afetou todos os seguimentos econômicos. “No Paraná, com a redução da demanda, algumas indústrias de fécula e farinha já estão registrando queda de aproximadamente 40% na moagem do produto, o que afeta a comercialização”, diz.
A falta de escoamento da fécula refletiu nos preços. O mercado nordestino, que registra uma boa produção neste período, não está demandando o produto paranaense, responsável por 65% da produção nacional. Atualmente, a tonelada de mandioca é comercializada a R$ 342,00. Embora o preço tenha subido 7% na comparação com o ano passado, não compensa o aumento nos custos de produção.
CAFÉ
No Brasil como um todo, as medidas de contenção da pandemia de Covid-19 incentivam a população a ficar em casa, com isso, o consumo do café torrado e moído pode aumentar. Neste ano, a produção nacional deve ficar próxima de 60 milhões de sacas.
No Paraná, houve redução da área do café, estimada em 36 mil hectares, 2% a menos do que na safra 18/19. “Isso se deve principalmente aos problemas com a mão de obra. Hoje, a mecanização agrícola é uma necessidade para reduzir custos de produção”, explica o engenheiro agrônomo Paulo Franzini. Estima-se a produção de 56 mil toneladas, volume semelhante ao da safra passada. Cerca de 91% da safra 18/19 foi comercializada. “No ano passado, o produtor adiou a comercialização para não vender com preço baixo”, explica o engenheiro agrônomo Paulo Franzini.
Na safra 19/20, o aumento do consumo, o equilíbrio no mercado mundial e a alta do dólar podem ajudar a elevar os preços, cobrindo os custos de produção. “Os produtores que têm melhor tecnologia no campo vão conseguir manter a produtividade”, diz.
O relatório do Deral mostra que a colheita já iniciou, principalmente em Umuarama e Londrina, totalizando 1% da área total. No mesmo período do ano passado, esse índice era de 3%. Cerca de 33% da produção está em fase de maturação e 67% em frutificação.
A estiagem de março e abril pode impactar negativamente na qualidade do café, mas ainda não é possível confirmar queda na produção. Em termos de fitossanidade, neste ano o controle da broca, praga que atinge as lavouras de café, está melhor do que no ano passado. Segundo Franzini, a colheita deve ser intensificada nos próximos 15 dias, se o clima colaborar. “A preocupação agora é com a pandemia e os cuidados que ela exige do produtor. Os equipamentos de proteção individual (EPIs), por exemplo, terão que ser adaptados, além de se obedecer ao distanciamento social”, diz.
CEVADA
As estimativas de área e produção da cevada no Paraná não registraram grandes alterações com relação ao relatório do mês passado. Espera-se uma produção de 286 mil toneladas, 17% maior do que na safra 19/20, e a área deve ser de 62,6 mil hectares, 4% superior à do ano passado. O início do plantio está previsto para o mês de junho.
Nos dois principais núcleos produtores do Estado, respectivamente Guarapuava e Ponta Grossa, a estimativa de área tem números positivos, segundo o engenheiro agrônomo Rogério Nogueira. Na região de Guarapuava, a área estimada é de 35 mil hectares, 7% a maior na comparação com a safra anterior, e 50% da produção está comercializada. O núcleo regional de Ponta Grossa tem área estimada em 17 mil hectares.
Fonte: Obemdito