O ministro do Supremo Tribunal Federal, Celso de Mello, decidiu hoje tornar público a íntegra do vídeo da reunião ministerial em que, segundo o ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) teria manifestado a intenção de interferir politicamente no comando da Polícia Federal.
Mello liberou o acesso ao vídeo da reunião ministerial realizada no dia 22 de abril, no Palácio do Planalto. A decisão foi tomada no Inquérito (INQ) 4831, em que se apuram declarações feitas pelo ex-ministro Sérgio Moro acerca de suposta tentativa do presidente de interferir politicamente na Polícia Federal. Com a decisão, qualquer cidadão poderá ter acesso ao conteúdo do encontro de ministros com Bolsonaro.
O decano autorizou, ainda, o acesso à íntegra da degravação do vídeo. A única restrição imposta foi a trechos específicos em que há referência a dois países com os quais o Brasil mantém relação diplomática.
Ontem, em uma transmissão ao vivo pela internet, Bolsonaro fez um apelo público ao ministro para que não divulgue a íntegra da gravação. “Não tem nada, não tem nenhum indício de que eu interferi em processo da Polícia Federal naquelas duas horas de fita”, alegou o presidente.
“Tem questões reservadas (no vídeo), tem particularidades de interesse nacional. Tem dois pedacinhos de 15 segundos que são questões de política externa e que não pode divulgar”, afirmou Bolsonao. Quando ao resto, o presidente disse ao ministro: “Divulga! E tem muito palavrão. Se divulgarem, tirem as crianças da sala”.
Bolsonaro demonstrou preocupação com o linguajar da reunião. “Às vezes sai um palavrão, sem ofender ninguém. Não é o caso de tornar isso público, senão vão falar: vê se esse homem está à altura do cargo que representa”, disse o presidente.
Transcrição – Na semana passada, foram divulgados trechos da transcrição da reunião. “Eu não posso ser surpreendido com notícias. Pô, eu tenho a PF que não me dá informações; eu tenho as inteligências das Forças Armadas que não têm informações; a Abin tem os seus problemas. Tem algumas informações. Só não tem mais por que tá faltando realmente… temos problemas… aparelhamento etc”, disse Bolsonaro.
“A gente não pode viver sem informação. Quem é que nunca ficou atrás da porta ouvindo o que o seu filho ou a sua filha está comentando? Tem que ver para depois… depois que ela engravida, não adianta falar com ela mais. Tem que ver antes”, afirmou o presidente. “Depois que o moleque encheu os cornos de droga, não adianta mais falar com ele: já era. E informação é assim. Então, essa é a preocupação que temos que ter: a questão estratégia. E não estamos tendo”, disse Bolsonaro. “E me desculpe o serviço de informação nosso, todos, é urna vergonha, uma vergonha, que eu não sou informado, e não dá para trabalhar assim, fica difícil. Por isso, vou interferir. Ponto final. Não é ameaça, não é extrapolação da minha parte. É uma verdade”, continuou ele. “Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro oficialmente e não consegui”.
Em outro trecho, Bolsonaro usou palavrão e falou em família e amigo. “Isso acabou. Eu não vou esperar f. minha família toda de sacanagem, ou amigo meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura. Vai trocar; se não puder trocar, troca o chefe dele; não pode trocar o chefe, troca o ministro. E ponto final. Não estamos aqui para brincadeira”, disse o presidente.