Presos da Penitenciária Industrial de Cascavel (PIC), no Oeste do Paraná, implantados no setor de artesanato, estão levando conforto e acolhimento aos pacientes de hospitais do município. Desde maio de 2019, os detentos confeccionam naninhas (bonequinhas de pano) para entregar a crianças internadas. Agora, o projeto inclui a produção de almofadas e amigurumis (bichinho de pelúcia feito de crochê) e passou a contemplar também os adultos hospitalizados. Desde o início, mais de duas mil peças já foram doadas a pacientes.
O projeto começou após os presos serem capacitados a confeccionar naninhas. Nestes 16 meses, o projeto foi se expandindo. Os internos passaram também a produzir almofadas em forma de corujas, nuvens, corações e vários outros temas, e os amigurumis. Mensalmente, o Hospital Universitário do Oeste do Paraná (HUOP) recebe uma média de 150 naninhas.
O coordenador regional do Departamento Penitenciário do Paraná (Depen) em Cascavel, Thiago Correia, lembra que o trabalho é também uma forma de apresentar aos internos uma forma de mudar de vida. “Acreditamos na importância do trabalho para a ressocialização do preso. Temos priorizado a implantação e viabilização de canteiros de trabalho nas unidades prisionais da regional do Depen, em Cascavel”, destacou.
A princípio, os materiais fabricados atendiam apenas as crianças internadas na ala pediátrica e psiquiátrica do Hospital Universitário, funcionando como suporte terapêutico aos pequenos. Agora, além delas, os adultos também passaram a ser contemplados, assim como pacientes do – Hospital do Câncer de Cascavel (Uopeccan), que recebeu, na manhã desta sexta-feira (11) 55 naninhas.
A psicóloga do HUOP, Sheila Taba, relata que, com a pandemia da Covid-19, o repasse das naninhas passou a priorizar situações com muito sofrimento envolvido. “Nos casos de Covid, os pacientes ficam isolados de seus familiares e a gente começou a entender que a naninha seria muito útil, pois ela traz um conforto que apenas por meio das palavras a gente não consegue oferecer”.
De acordo com ela, a ideia surgiu após um paciente adulto com deficiência mental ser internado na ala de Covid-19. “A naninha entrou nesse momento como uma grande companheira. Ele ficou super feliz”, contou Sheila.
Em outro momento, os objetos foram doados a crianças que foram visitar a avó, que estava sob cuidados paliativos. “A paciente começou a piorar, e os três netos pequenos vieram visitá-la. Como era uma visita muito triste, as naninhas acabaram sendo para eles o presente da vovó. A gente acredita que essa é uma lembrança boa que fica para essas crianças”.
MÃOS QUE CRIAM – Implantado na PIC em 2017, o “Mãos que Criam” é de artesanato e tem o objetivo de ajudar quem precisa. A ideia de confeccionar naninhas surgiu dentro dele. “No começo, em parceria com o Conselho da Comunidade, foram adquiridas uma máquina de costura e os insumos necessários a produção, além de contratarmos uma professora”, explicou a coordenara do projeto de artesanato na PIC, Adriana Pereira.
Com isso, ao mesmo tempo, ele propicia aos presos uma oportunidade de resgate à dignidade, aprendendo um novo ofício, além da remição de pena. “Acreditamos que o repasse desses materiais é uma maneira de mitigar o sofrimento dos pacientes internados e dos seus familiares e ainda é uma forma de fazer com que o trabalho dos nossos internos proporcionem um retorno positivo à sociedade”, afirmou o diretor da Penitenciária Industrial de Cascavel, Rodrigo Cardoso.
Quando começou, os materiais confeccionados pelos detentos eram repassados apenas aos seus familiares, para que eles pudessem gerar renda com a venda dos produtos. A ideia de levar parte aos hospitais surgiu após a expansão da produção, conforme explicou a coordenadora do Conselho da Comunidade de Cascavel, Pâmela Pfeffer.
“O preso que está inserido neste campo de trabalho desenvolve novas potencialidades e competências, provendo uma nova profissão e combatendo, assim, os obstáculos que poderão encontrar quando adquirirem a sua liberdade, uma vez que mostra que eles estão aptos a viver em sociedade”, afirmou Pâmela.
Além de ajudar quem precisa, o coordenador regional do Depen também lembra que esta é mais uma iniciativa que permite que o preso se ocupe, aprenda um novo ofício e ainda contribua de alguma forma com a sociedade.