PARIS — O presidente da França, Emmanuel Macron, anunciou nesta quarta-feira a imposição de um toque de recolher em Paris e em outras oito cidades para tentar controlar a transmissão da Covid-19. A nova medida, que vai vigorar das 21h às 6h, passa a valer a partir deste sábado.
O toque de recolher irá durar inicialmente quatro semanas, segundo informou Macron, mas pode se estender a seis com a aprovação da Assembleia Nacional. A medida irá afetar a região de Île-de-France — que inclui Paris — e as cidades de Lyon, Lille, Rouen, Grenoble, Montpelier, Saint-Etienne, Toulose e Ayx-en-Provence. Ao todo, cerca de 20 milhões de pessoas — quase um terço da população do país — serão afetadas. Quem desrespeitar a nova restrição terá que pagar uma multa de € 135 (R$ 887).
— Estamos em uma segunda onda — afirmou Macron. — Temos que reagir.
O presidente também explicou que não haverá uma “proibição” de sair de casa entre 21h e 6h, mas que se trata de uma “limitação”. Segundo ele, a população estará autorizada a sair em casos essenciais, como trabalho. Não haverá restrições nos transportes públicos, e os franceses podem viajar entre as regiões do país.
— O toque de recolher irá durar quatro semanas, e iremos ao Parlamento para estendê-lo até 1º de dezembro. Seis semanas é o tempo que acreditamos ser necessário — disse Macron.
Em Paris e outras cidades mais afetadas pelo vírus, bares e academias já haviam sido fechados, e foram implementados protocolos mais rígidos em restaurantes e shoppings.
Agora, na prática, restaurantes, teatros e cinemas deverão fechar às 21h. Indiretamente, a nova medida tem como objetivo limitar reuniões privadas, onde as infecções se multiplicam.
— Não poderemos sair dos restaurantes depois das 21h, não poderemos ir à casa de amigos para comemorar, porque sabemos que é lá que ocorrem mais contaminações — disse o presidente francês, afirmando que a vida dos franceses não mudará durante o dia. — Vamos continuar trabalhando, a nossa economia precisa disso, nós precisamos, e os nossos filhos vão continuar frequentando a escola.
O presidente, no entanto, recomendou o trabalho remoto “duas ou três vezes por semana” para as empresas que possam adotá-lo.
Macron também afirmou que a pandemia é “preocupante”, mas que o país “não perdeu o controle da situação”. Ele ainda acrescentou que decretar uma nova quarentena nacional seria desproporcional, apesar do aumento dos casos.
— A mensagem que eu quero passar nesta noite é que preciso de cada um de vocês, precisamos uns dos outros para achar soluções. Sairemos desta mais fortes, porque estamos unidos — disse ele.
Portugal:Para conter nova onda da Covid-19, país entra em estado de calamidade e aumenta restrições
Nesta quarta-feira, foram registrados mais 22.591 casos do novo coronavírus na França, a terceira vez em seis dias em que o número de novas infecções é maior que 20 mil. O número de mortes foi de 104 em 24 horas, ainda acentuadamente menor do que no auge da pandemia, quando chegavam a morrer mais de 800 pessoas por dia.
Ainda assim, Macron afirmou que as unidades de terapia intensiva estão em uma situação que não pode ser sustentada e que a disseminação do vírus precisa ser reduzida. Segundo o Ministério da Saúde, 32% dos leitos de terapia intensiva do país estão ocupados por pacientes com Covid-19.
— Precisamos ir de 20 mil casos por dia para 2 mil ou 3 mil — disse o presidente.
Além de anunciar o toque de recolher, o presidente francês também disse que não deveria haver mais de seis pessoas da mesma família em uma mesma mesa, embora isso não se aplique a famílias de mais de seis pessoas que morem na mesma casa.
O alerta máximo é decretado quando há, em uma semana, mais de 250 novos casos de Covid-19 por 100 mil habitantes, uma incidência alta da doença em pessoas com mais de 65 anos e 30% dos pacientes com a Covid-19 em terapia intensiva.
Na semana passada, o governo francês já havia ampliado o estado de alerta máximo contra o coronavírus para seis cidades, incluindo Paris.