Quando escrevi, há dias sobre A Cabana, coloquei no título “Há controvérsias I”… porque eu sabia que ainda abordaria (e abordarei) vários assuntos polêmicos… Nem tenho ideia até que número isso irá chegar! rsrsrs!
Então… sei que, na afirmação do título de hoje, há controvérsias… mas… vamos pensar um pouco sobre o assunto?
Sei que os cristãos bem fanáticos irão parar a leitura por aqui… Será que podem me dar um crédito… dando-me a honra de saber o que tenho a lhes dizer?
“Qual é a definição correta de família? Existe um conceito correto? As definições antigas dão conta da diversidade que a sociedade contemporânea vivencia em suas relações?
Especialistas e intelectuais afirmam que não há um conceito único de família e que ele permanece aberto, em construção, e deve acompanhar as mudanças de comportamento, religiosas, econômicas e socioculturais da sociedade. Alas mais conservadoras da sociedade e de diferentes religiões não compartilham dessa visão e mantêm o entendimento de que o fator gerador da família é o casamento entre homem e mulher, os filhos gerados dessa união e seus demais parentes.
Na África, por exemplo, a poligamia para os homens é permitida e reconhecida legalmente em muitos países, como Líbia, Marrocos, Quênia, entre outros. Na África do Sul a poligamia é um direito que está na Constituição. Qualquer homem sul-africano pode ser casado com até quatro mulheres. Todas recebem o sobrenome do marido e têm os mesmos direitos perante a lei”1.
Como se vê… o mundo mudou… como escreveu meu amigo Doni em uma peça de sua autoria, “A vida passa lá fora”…
As uniões homoafetivas estão aí, quer gostem ou não. São uma realidade reconhecida por lei – inclusive no Brasil.
A aprovação dessa lei trouxe interessantes polêmicas ao nosso país…
Ela “é uma conquista importante no sentido de ampliar as garantias patrimoniais entre os homossexuais que vivem em união estável, os quais, em caso de morte do companheiro ou companheira, poderão, com a aprovação desta lei, usufruir legalmente de sua herança, assim como já ocorre com todos os casais heterossexuais desde sempre. (…) Mas, ao mesmo tempo em que se aprova uma lei para defesa da mulher, como a lei “Maria da Penha”, também se faz presente um forte preconceito e violência contra homossexuais”.2
Isso tudo levou ao debate sobre a criminalização da homofobia.
Esse assunto virou uma polarização tão grande quanto a situação política atual… Se analisarmos friamente, veremos que ambas as partes têm seus erros e acertos.
O principal erro que vejo na criminalização, é a forma como alguns a querem – segundo se sabe, por eles, “religiões como o cristianismo (evangélicos, católicos, entre outros) teriam seus líderes e fiéis cometendo crime ao mencionarem que reprovam a homossexualidade e atos como casamentos homoafetivos conforme suas fundamentações, que consideram sagradas.”. Nesse caso… como fica a liberdade religiosa prevista na Constituição? “Impedir que pastores, padres ou quaisquer religiosos confessem sua fé conforme os ensinamentos de sua doutrina parece indicar ser também uma forma de afrontar a liberdade, mais especificamente a liberdade de expressão religiosa”.
Por outro lado, o principal erro que vejo tanto em algumas instituições religiosas como em algumas pessoas da sociedade, é a intolerância!
Não vejo motivo para alguns pastores, padres (mais pastores do que padres…) abominarem de tal forma o que já existe, doa a quem doer, que partem para ofensas, xingamentos, chegando até à incitação do ódio.
Essa apologia à agressão física ou psicológica é que eu recrimino.
Afinal, o que é que incomoda tanto a essa gente? Aos indivíduos, que diferença faz em suas vidas se sexos iguais resolvem se unir? E aos religiosos… será assim tão frágil a confiança que têm na convicção religiosa de suas “ovelhas”, que sentem essa necessidade insana de repudiar de maneira desrespeitosa??
Essa postura de “salvação da família”, fundada em preceitos religiosos, negligencia dados relevantes e alarmantes de nossa cultura, tais como o fato de que mais de 40% dos casos, no mundo, de agressão contra gays, lésbicas, travestis, transexuais etc. ocorrem no Brasil, país no qual os estados de Roraima, Mato Grosso, Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas, Pernambuco, Amazonas, Piauí, Rondônia e Sergipe são considerados os dez estados mais perigosos para homossexuais”3
Eu, particularmente, não gosto de jiló… nem de sertanejo universitário nem de salto alto. Devo ser punida por isso? Isso atinge alguém? Faz diferença em suas vidas? Tira o seu sono??
Os discursos de ódio são proibidos e está garantida essa proibição pela lei contra o preconceito (7.716/89).
Ninguém é obrigado a aceitar os diferentes tipos de família que hoje se desenham na sociedade. Só aceitam a “família” como sendo a formada por héteros com seus filhos? Ótimo!
Uma coisa é pensar assim… outra, é DESRESPEITAR os contrários! Todo mundo tem o DIREITO de ser como quiser… pensar como quiser… o que não pode é radicalizar chegando às agressões físicas e morais. O que não pode é ficar enchendo o face de postagens altamente preconceituosas e ofensivas… uma hora, incitando boicotes a O Boticário por causa de propaganda com casais homossexuais (por sinal, muito linda!); outra hora incentivando boicote às Globo pelo primeiro beijo com casal homossexual masculino e o beijo (“selinho”) entre duas atrizes já idosas (tantos outros motivos indubitavelmente mais relevantes para boicotar essa emissora!!); outra hora, ainda, menosprezando e usando os mais ofensivos “adjetivos” ao se referirem a gays e a todos os que chamam de “anormais”! Façam-me o favor!!!
Não resisto, aqui, a terminar esta coluna da mesma forma como terminei uma outra, há uns anos…
“Sei que há pessoas que, tendo sido criadas dentro de certos “princípios religiosos”, acreditam, mesmo, que estão travando uma “luta contra o mal” quando começam com esses ataques. Acham, mesmo, que estão ajudando a “levar o nome do Senhor” a “essas almas perdidas”. Não percebem sequer a contradição de suas ações em relação àquilo que elas mesmas pregam: “Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu? (1 João 4:20)”. Ou: “Assim, em tudo, façam aos outros o que vocês querem que eles lhes façam; pois esta é a Lei e os Profetas”. (Mateus 7:12). Ou, ainda: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. (Mateus 22:37-40).
Fazer o quê, não é? Cada um com seu cada qual…”
2.http://brasilescola.uol.com.br/sociologia/uniao-homoafetiva-debate-no-brasil.htm