Em setembro completaram-se 75 anos da primeira edição brasileira (1941) de Admirável Mundo Novo, grande romance perturbador lançado pelo visionário filósofo e escritor Aldous Huxley.
Quando nos vemos diante de tantos disparates… tanta “felicidade artificial” disseminada nas redes sociais… tantos descalabros no mundo e, em particular – e o que mais nos interessa – no Brasil, é o caso de nos perguntarmos se não seria útil reler tal obra… mesmo tendo sido lançada numa época tão distante em que nem existiam a TV e a internet!
Li por aí que ficaríamos surpresos e chocados com sua surpreendente atualidade. “Ficará claro que, pelo menos uma vez, o passado capturou o presente.”
Recordemos que o autor, Aldous Huxley (1894-1963), narra uma história que transcorre num futuro muito distante, próximo ao ano 2500 e narra um hipotético futuro em que as pessoas são pré-condicionadas biologicamente e condicionadas psicologicamente a viverem em harmonia com as leis e regras sociais, dentro de uma sociedade organizada por castas.
Aldous Huxley escreveu, mais tarde, outro livro, chamado Retorno ao Admirável Mundo Novo, sobre o assunto: um ensaio no qual demonstrava que muitas das “profecias” do seu romance estavam sendo realizadas graças ao “progresso” científico, no que diz respeito à manipulação da vontade de seres humanos.
Aldous Huxley escreveu Admirável Mundo Novo num momento em que as consequências sociais da grande crise de 1929 afetavam em cheio as sociedades ocidentais, e em que a crença no progresso e nos regimes democráticos parecia vacilar.
“Taí” o ponto em que eu queria chegar…
Tenho a nítida sensação de que nós, brasileiros, estamos repetindo a história e estamos nos sentindo assim: por causa dos últimos acontecimentos políticos, anda todo mundo desanimado… meio que descrente e muito inseguro em relação ao amanhã deste país… ao nosso amanhã.
E, quando eu falo “todo mundo”, não estou me referindo a “esquerdistas” ou “direitistas”… mas a todos desta nossa terra, muitos dos quais (ou todos??) nem sabemos mais pra que lado nos virar. Ansiamos para que o pesadelo acabe e nasça um “admirável mundo novo…”
Deus me livre de ser esse mundo do Aldous Huxley, onde, “para a sociedade civilizada, ter um filho era um ato obsceno e impensável, ter uma crença religiosa era um ato de ignorância e de desrespeito à sociedade.” Mas um novo país, em que os cidadãos pudessem voltar ao que já foram um dia…
… quando ainda tinham valores indiscutíveis…
… quando a melhor educação ainda era a que vinha do berço…
… quando sabiam dialogar e não agredir…
… quando aceitavam a ideia do outro também ou, se não a aceitassem, apenas a debatiam saudavelmente, com muito respeito.
… quando os preconceitos, em particular aos homossexuais, não eram tão exacerbados como atualmente, a ponto de poderem até causar mortes…
… quando o “condicionamento” – que não cessou de se intensificar desde a época em que Huxley publicou o livro e anunciou que, no futuro, seríamos manipulados sem que nos déssemos conta – ainda não era tão contundente e cruel…
… quando, em particular, os mad men da publicidade, por meio do recurso a mecanismos psicológicos e graças a técnicas muito experimentadas, como o uso da “publicidade subliminar”, nos meios de comunicação de massas, não conseguiam que comprássemos um produto, um serviço ou uma ideia, convertendo-nos em pessoas previsíveis, quase teledirigidas – como se constata facilmente na mídia, nos facebooks e outras redes sociais, embora (como seria óbvio se esperar) muitos não se deem conta e não admitam…
Como se vê… o que se necessita, ao fim e ao cabo, não é, na verdade, de nenhum “admirável mundo novo”… mas uma volta ao “velho mundo”, aquele em que, mais inocentes, éramos todos mais felizes…
http://outraspalavras.net/posts/a-atualidade-chocante-de-admiravel-mundo-novo/https://pt.wikipedia.org/wiki/Admir%C3%A1vel_Mundo_Novo