[1] A contaminações causadas pelo homem, corpos hídricos, como rios, trechos de rios, lagos, efluentes ou ainda das águas subterrâneas contidas em aquíferos tem se tornado uma preocupação emergente, justamente pois boa parte destes poluentes encontram-se facilmente dissolvidas em meio aquoso, e ainda devido ao aumento deste materiais de difícil separação em maioria de seus compostos utilizados na agropecuária, agricultura e favorecem uma gama de poluentes orgânicos e inorgânicos por conta do manuseio e descarte inadequado, atingindo, eventualmente, o topo da cadeia alimentar e consequentemente, a saúde humana.
Atualmente, diversos estudos desenvolvidos por profissionais da saúde bem como suas pesquisas científicas, têm como objetivo investigar os efeitos nocivos de defensivos agrícolas na saúde humana. E nestas são encontrados traços dessas substâncias no sangue humano, no leite materno e em resíduos encontrados em alimentos consumidos pela população em geral, apontando a possibilidade de ocorrência de anomalias congênitas, de câncer, de doenças mentais, disfunções na reprodução humana relacionando essas ao uso destes compostos químicos.
“Em âmbito nacional as condições de nossos rios, é alarmante”
Em âmbito nacional as condições de nossos rios, é alarmante. Em coletas e análises laboratoriais realizadas pela organização não governamental SOS Mata Atlântica em 2015, revelaram que 23,3% das águas encontradas em 111 rios brasileiros são de qualidade ruim e péssima. Com 301 pontos de rios e mananciais do Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Santa Catarina, Minas Gerais e Rio Grande do Sul analisados revelaram que nenhum dos rios analisados tem água totalmente limpa.
De acordo com a mesma pesquisa, em 21,6% dos pontos de coleta, a água foi considerada ruim e em 1,7% péssima. Em 186 pontos (61,8%), os pesquisadores encontraram água considerada regular e 45 pontos (15%) mostraram boa qualidade. Esta classificação tem como base parâmetros do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA.
A legislação brasileira descreve que águas nessa situação são improprias até mesmo para receber tratamento destinado para o consumo humano ou utilizá-las para irrigação de lavoura.
“Devemos sim nos preocupar!”.
Pesquisas Locais apresentam que as nascentes urbanas de Goioerê-PR investigadas, que se encontram em desconformidade com as leis ambientais brasileiras, estão em situação de vulnerabilidade ambiental, necessitando intervenção pública para a sua recuperação[2].
Um outro exemplo está em trabalhos recentes, na mesma região, as análises da água do sedimento do lago Aratimbó, em Umuarama-PR, encontravam-se com concentrações de Cobre e Chumbo na água acima do limite da legislação vigente.
Essas contaminações estão diretamente relacionadas com o uso excessivo de insumos agrícolas. Segundo o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social – IPARDES até 2011, em todo o estado, a quantidade utilizada de insumos agrícolas chegou a 96,1 milhões de quilos no estado, média de 9,6 quilos de defensivos por hectares ao ano.
Os prejuízos à natureza desencadeados pela indústria têxtil, característica de nossa região, são decorrentes desde o plantio do algodão até a confecção do produto final. Mesmo utilizando uma área menor do que a destinada para agricultura valores aproximados de 2%, esta área é responsável por cerca de 24% de todo o insumo agrícola e 11% dos pesticidas utilizados na agricultura.
O consumo excessivo de água nos processos de beneficiamento e acabamento como alvejar e tingir o produto ao longo da cadeia produtiva têxtil envolvem contaminação do solo, consumo de água, de energia, emissões de gases poluentes, além de resíduos sólidos. “imaginem a época de ouro do algodão em nossa região”
De acordo com dados mais recentes IBGE/CENSOAGRO em 2017 na região da bacia hidrográfica do Piquiri (Centro-Oeste), foram utilizados 19,3 milhões de quilos um aumento considerável de 20%, aplicados em todo estado. Com a expectativa de um aumento nestes índices, devido a planos voltados ao desenvolvimento pecuário e agrícola ao final de 2017, com um aumento da área plantada em 26% resultando em uma safra superior a 238 milhões de toneladas de grãos.
E ainda por mais recentes que as pesquisas sejam, nos últimos anos houve um considerável aumento de doenças, que de certa forma já estão relacionadas ao uso excessivo e ao descarte inapropriados de agrotóxicos e principalmente o consumo excessivo de hormônios agropecuários, que estamos presenciando desenfreadamente em nossa região.
“O uso excessivo de produtos químicos na agricultura reflete diretamente na sua saúde”
“Sim caro leitor, já existem pesquisas que estão cruzando este tipo de informação”.Doenças como nos rins e no fígado, infertilidade, autismo, hipotireoidismo, malformação do feto, anencefalia e até mesmo o aborto. Todas elas associadas com o aumento no consumo de produtos processados e quantidade de produtos agrotóxicos aplicados por hectare de terra cultivado.
O alto índice está relacionado tanto com consumo alimentos processados feitos de trigo, milho ou soja, que concentram maioria dos agrotóxicos, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, como em carnes e leites dos animais que se alimentam com esses grãos.
As mesmas pesquisas apontam que a exposição a defensivos provoca intoxicações graves e mortais. Devido à alta solubilidade de alguns destes agroquímicos, grande parte de sua concentração aplicada no solo não alcança o seu objetivo, desta forma boa parte da aplicação do agrotóxico é perdida por meio de lixiviação e está vem diariamente contaminando rios, nascente, lençol freático e leitos de rios, principalmente em nossa região.
As intoxicações causadas por fosfato se caracterizam por hipocalcemia, os sais de potássio provocam ulceração da mucosa gástrica, hemorragia, perfuração intestinal, etc. Para se ter uma ideia, no organismo, através de reações metabólicas os nitratos, se transformam em compostos (nitrosaminas), que são substâncias altamente cancerígenas. Dados recentes apontam que além do não tratamento e saneamento básico, o descarte destas embalagens de defensivos agrícolas ocasionando erosões e assoreamento de rios e lagos, estão relacionados com o aumento de cianobactérias e cianotoxinas causadores do zika vírus, que aumentam consideravelmente devido ao excesso de nitrogênio dissolvido em água. “Adivinhem da onde vem o nitrogênio?”
Os mesmos estudos apresentam que em 2015, o Brasil registrou 209.780 mortes por câncer e 349.642 relacionadas a doenças cardiovasculares e do aparelho circulatório. Ao comparar dados recolhidos de 20 anos atrás (1998), nota-se um acréscimo considerável na mortalidade por neoplasias, cerca de 90% de aumento em relação a 1998, quando 110.799 pessoas morreram da doença, demonstrando que as mortes por câncer evoluíram três vezes mais rápido quando comparado com mortalidade por doenças cardiovasculares, e ainda o levantamento aponta que até 2030 as neoplasias devem ser a principal causa de morte no país.
De acordo com Instituto Nacional de Câncer (INCA) pesquisas revelam que o câncer já é a principal causa de morte em 10% dos municípios brasileiros. Em um levantamento inédito realizado pelo Observatório de Oncologia, apresenta que 80% das cidades onde o câncer é a principal causa de morte estão concentradas nas regiões Sul e Sudeste, justamente as mais desenvolvidas do Brasil, e consequentemente, em cidades que apresentam maiores expectativa de vida.
Dados do INCA ainda enfatizam que expectativa é de 1,2 milhão de novos casos de câncer no país entre 2018 e 2019. “Bem caro leitor, você já deve ter reparado quantidade de carros e ônibus que saem toda semana para Cascavel, pacientes em busca de tratamento”
Câncer de próstata, mama, intestino, pulmão, estômago, colo do útero, cavidade oral, câncer da tiroide, sistema nervoso central, leucemia e esôfago, que até então estão relacionados com questões de envelhecimento, alterações hormonais, ligados a funções reprodutivas, pulmonar, obesidade, sedentarismo, todas estas características da população de vida mais urbana. “Assim como eu e você que está lendo esta coluna, ou usando alguma rede social”.
Esses números tendem a aumentar, e isto é preocupante. E ainda, no momento não estamos relacionando estes dados com a presença de contaminantes tóxicos oriundos de diversos medicamentos e hormônios sintéticos facilmente encontrados na produção de frangos.
Com a maior liberação de agrotóxicos da história deste país, chegando a expressivos números de 325 tipos apenas em 2019 e utilizando 500mil toneladas deste por ano, valores extremamente elevados e desnecessários, como apontado em todas as pesquisas, uma vez que mundialmente não somos os maiores produtores. A consequência da poluição de solos e águas são diversas e estas refletem do diretamente na qualidade da saúde do homem.
Além do prejuízo a fauna e flora das regiões afetadas, o uso destas águas contaminadas para o consumo humano acarretam em sérias complicações à saúde como câncer, listado acima, atribuídos a presença de defensivos agrícolas na água.
“O câncer é a segunda principal causa de morte no mundo”
O câncer é a segunda principal causa de morte no mundo e é responsável por 9,6 milhões de mortes em 2018. A nível global, uma em cada seis mortes são relacionadas à doença.
O combate à poluição deve se intensificar como campanhas de conscientização ambiental, medidas de fiscalização e controle. O manuseio de resíduos sólidos e o tratamento da água se faz necessário, isto é evidente, justamente para incorporação e facilitação sustentável de gerações futuras.
A melhor compreensão do impacto e do dano causado ao ser humano e a natureza pela contaminação de nossas águas por contaminantes agrícolas, pode auxiliar pesquisadores a desenvolver novos métodos e tecnologias para prevenir ou minimizar efeitos indesejáveis causados por exemplo pela poluição da água.
[1] O texto completo, com o levantamento de dados pode ser acessado em :
EFEITOS DAS CONTAMINAÇÕES DE CORPOS HÍDRICOS ORIUNDOS DA ATIVIDADE INDUSTRIAL E AGRICULTURA (http://revistas.unisuam.edu.br/index.php/revistaaugustus/article/view/343)
[2]Texto completo Nascentes Urbanas de Goioerê: diagnóstico ambiental http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/geografia/article/view/32501