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Entre 1990 e 1996 – não sei precisar o ano – quando eu era diretora do PREMEN II, iniciamos um belo projeto de lixo reciclável. Fizemos conscientização de alunos, família, comunidade… Lembro-me de que tive grande ajuda da professora Rosa Gomes. Fizemos até cartilha…

Obtivemos a parceria da Prefeitura, naquela época sob o comando do Paulo Novais, que chegou a construir no colégio um barracão para armazenarmos o lixo para vendermos posteriormente.

Muuuuitos anos depois, o ex-Prefeito Antonio Sena apoiou o projeto de coleta seletiva que na época era levado pela agência de desenvolvimento local (antiga ADGRÊ), da qual na época minha amiga Leatriz era presidente, e lançaram a coleta junto com a criação da Associação de Coletores, que foi apoiada pelo Rotary Clubcomdoação de todos os equipamentos, como caminhão, carrinhos e tudo o mais.

Cada vez que alguém mexe com isso, há uma “febre momentânea”… que depois cai no esquecimento, o que não permite à população adquirir em definitivo o hábito recém ensinado – ou não (às vezes nem dá tempo…).

E foi assim, de gestão em gestão – do “mexe-com-o-lixo” – esquece; “mexe-com-o-lixo” – esquece, que chegamos ao momento presente.

Foi alegado que a população já adquiriu o tal hábito para a reciclagem, e eu pergunto: será mesmo? Há quanto tempo se ouve falar sobre as conscientizações sobre a dengue… quantas vezes já não se fizeram mutirões de limpeza… e a dengue não está aí? A população “todinha” aprendeu? Aprendeu o quê? Então, quem pode garantir que está preparada para a lei do lixo reciclável que estão impondo?

A pessoa que separa o lixo lá em casa para colocar lá fora me afirma sempre que espera primeiro ouvir o som do caminhão da coleta, que no caso passa às segundas feiras, para sair correndo e levá-lo, pois, se o fizer mais cedo, os catadores passam antes, mexem no lixo, catam só o que lhes interessa e deixam tudo revirado. (esse dia da coleta é um outro problema… “na 2ª, bairros tal e tal; na 3ª, bairro tal… etc. Será que alguém presta atenção nisso – se é que foi divulgado nas rádios também…)? Será que todo mundo decora e lembra depois?). Ela conta também que às vezes nem ouve o som, porque – diga-se de passagem… – aquilo é uma piada, só pode! Até um sonzinho numa bicicleta que vi e ouvi aqui em Guaratuba, de onde escrevo desta vez esta coluna, é mais forte que o do caminhão. Até o fumacê que passa de vez em quando a gente ouve melhor!

Aí vem a drástica imposição: desde o último dia 04, quem não tiver separado o lixo úmido do reciclável não terá seu lixo recolhido. Pior: está sendo elaborada uma lei para multar moradores que insistirem em não separar o lixo e para os que jogarem sacolas não recolhidas pelo caminhão da Prefeitura,  em terrenos baldios. Para os que jogarem lixos em terrenos, até que já vem tarde…

E a “piada” final: será deixado um panfleto “elucidativo”, que avisará aos moradores por que o lixo não foi retirado, e orientando sobre quais são os lixos secos e úmidos – que deverão ser separados em duas sacolas.

Por que piada?

Pense numa situação: a pessoa trabalha o dia inteiro… mora sozinha… nunca se preocupou com essa “história” de lixo. Chega em casa, vê em frente o mesmo lixo que deixou, com um “papelzinho” em cima. Ainda nem entrou em casa… está cansada, com fome, precisa tomar banho, comer, relaxar… no dia seguinte, trabalho de novo, cedinho! Acham que vai se lembrar de ler tudo aquilo? Vai jogar em algum lugar de que depois nem se lembrará mais!

Pense em outra situação: uma pessoa analfabeta… dessas que nem assinam o nome. Mora com alguém também analfabeto. Talvez um “boia-fria”. (sem preconceito, tá? Nem vem! É só para ilustrar uma coisa que acontecerá com toda a certeza!). Ficou o dia todo na lida… mas, antes de sair, bem que deixou uma sacolinha de lixo do lado de fora da precária cerca. Quando volta… vê o lixo ainda ali… e um papel engraçadinho, cheio de desenhos em cima. Preciso terminar??

Pois então… vamos esclarecer.

Claro que alguma coisa precisava ser feita – inclusive com medidas mais sérias. Não é esse o meu questionamento… O problema é que, conforme os noticiários todos, a medida foi tomada porque é cada vez maior o volume de materiais que poderiam ser reciclados e estão sendo mandados incorretamente para o aterro sanitário. Só isso já não seria a prova cabal de que as pessoas não estão realmente preparadas?

Podemos pensar numa terceira situação: aquele mesmo boia-fria sendo multado. Vai pagar como? E vão fazer o quê? Prender??E os demais… serão presos também?!

Então, que fique claro: óbvio que aprovo a boa intenção… mas nunca radicalismo nenhum levou a nada… a não ser a problemas ainda maiores – às vezes até trágicos. Talvez seja a hora de insistir mais nessa conscientização – de maneira massificante: nas escolas, através dos próprios alunos, professores e reuniões com pais…nas rádios… nos sites locais…com mobilização das entidades organizadas…no “tête-a-tête” com a comunidade em geral… procurando exemplos de outras cidades em que isso funcione há alguns anos…enfim!

Está posto um grave risco que Goioerê corre: caminhar a passos largos do lixo ao lixão!! Transformar-se num grande depósito de lixos a céu aberto…