Duas das principais estrelas de Tóquio 2020, Simone Biles e Naomi Osaka chamaram a atenção do mundo ao tomarem uma decisão, durante os Jogos Olímpicos, priorizando suas questões emocionais e psicológicas. A ginasta norte-americana optou por desistir das competições por equipe e individual geral, mesmo classificada para a final. Já a tenista japonesa, uma das favoritas na modalidade, foi desclassificada ainda nas oitavas.
Diante desse contexto, o psicólogo João Ricardo Cozac, presidente da Associação Paulista da Psicologia do Esporte, afirma que o esporte de alto rendimento está longe de ser um lugar psicologicamente saudável, dizendo que atletas silenciosamente vivem um retrato de desequilíbrio das emoções e uma tentativa de adaptação às exigências, onde, não raro, o final dessa equação são as síndromes e a desistência precoce da prática esportiva, quadros agudos de depressão e crises de ansiedade.
“Os atletas são especialistas em suprimir emoções para dar conta de seus objetivos”
O psiquiatra Henrique Bottura, mestre em psicologia do esporte pela Unesp (Universidade Estadual Paulista), complementa esse raciocínio utilizando-se de uma frase que chamou-me a atenção, dizendo: “Os atletas são especialistas em suprimir emoções para dar conta de seus objetivos”.
O que podemos aprender com isso tudo? Talvez você que está lendo esta matéria, consiga entender plenamente o que essas atletas sentiram e pensaram ao tomar essa decisão, ou talvez você pense: “Mas o universo do esporte está tão distante da minha realidade”.
Utilizando-nos dessa perspectiva, poderíamos nos questionar: Qual o peso que o cuidado psicológico tem sobre as nossas vidas? Em que a sua saúde mental implica no seu cotidiano? A atitude dessas atletas gerou uma discussão, que embora não seja atual, é de extrema importância. Vivemos em uma sociedade onde produzir é o ideal a ser alcançado. Acordamos todos os dias e nos deparamos com essa realidade, onde mais importante do que ser é ter.
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Aprendemos que saúde física é tudo que precisamos para travarmos nossas batalhas diárias. Diante disso, pergunto-lhes: Qual o preço de suas conquistas? Não estou querendo dizer que trabalhar, dar o seu melhor, ir em busca de seus sonhos e projetos, não seja algo importante, muito pelo contrário, a questão é: Qual caminho temos tomado para alcançar nossos objetivos? O que temos levado em consideração e o que temos desprezado, abdicado, ignorado em nós, durante nossa caminhada de vida?
“No momento em que tudo desaba, não adianta ter talento e medalhas”
Utilizando-me ainda das colocações de Cozac, o mesmo segue dizendo que não se pode criar atletas com corpos de aço, técnicas de aço e a base de barro, relatando: “No momento em que tudo desaba, não adianta ter talento e medalhas, o que importa é o suporte emocional.” Trazendo para a realidade da maioria de nós, por muitas vezes esquecemos que não somos “robôs”, não somos máquinas e que temos medos, traumas, sentimentos e emoções. Essa dicotomia de mente e corpo não é real, a mente não funciona separada do restante do corpo, muito pelo contrário, nosso sistema nervoso controla todo o nosso funcionamento.
Somos seres humanos que vivemos e sentimos de forma integral, não saímos para trabalhar ou não acordamos para enfrentar nosso dia e conseguimos separar os sentimentos dos pensamentos, as emoções dos comportamentos. Quando levantamos da cama, todo nosso corpo atua concomitantemente para que consigamos caminhar, desde a resposta que nosso sistema nervoso irá emitir para nossos membros corporais, quanto os sentimentos que carregamos ao iniciar aquele dia.
E você? Como está o seu suporte emocional? Enquanto não compreendermos que como seres integrais, precisamos cuidar de nossa saúde de forma integral, não conseguiremos atingir a plenitude do bem-estar, não seremos seres saudáveis.
Que essa atitude dessas atletas nos sirva de lição e principalmente, volte a nossa atenção para a importância que temos dado a nossa saúde mental. Afinal de contas, cuidar da sua saúde mental, é cuidar de você!
A psicóloga Marilia Frost atende no Instituto Urbano pelos telefones (44) 3522 4191 ou 92000-4591
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