É impressionante como a história se repete. E – o que é pior – as experiências vividas parece que não ensinam nada…
Foi na década de noventa, acho… a memória já não sabe precisar… (alguns colegas lembrarão com certeza…). O fato é que essa discussão sobre “tirar ou deixar” Educação Artística e Educação Física do currículo das escolas não é inédita… Agora ela volta, desta vez focada no Ensino Médio. E não só ela…
Vamos começar por uma publicação recente, no link abaixo:
“O ensino médio foi a etapa da educação básica que ficou mais distante da meta estabelecida pelo Ministério da Educação (MEC), de 4,3 pontos. O resultado de 2015 ficou seis décimos abaixo do que era esperado, com 3,7 pontos. A rede pública pontou no total 3,5, enquanto a rede privada ficou em 5,3. Ambos os resultados também estão abaixo do estipulado para essas redes: 6,3 para as escolas particulares e 4,0 para as públicas. Os únicos estados que tiveram um bom desempenho nessa fase foram Pernambuco e Amazonas, que atingiram a meta.”
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Isso não é – ou não deveria ser – novidade para ninguém. Pior: já não é de hoje que vem acontecendo… E dia a dia vai piorando… Segundo o economista Claudio de Moura Castro, o ensino médio “é um dos piores do planeta”. Segundo um artigo que li (e que assino embaixo), “o ensino médio brasileiro, público e particular, é engessado, ineficiente e desconectado do século XXI”.
Muito bem…
Que o Ensino Médio vai mal já se sabe, então. Que ficar como está não dá mais, também.
Agora…
Tudo o que eu tenho vivido e/ou presenciado em termos de mudanças na Educação, nunca deu em nada. Ou melhor… Deu. Esse resultado que aí está! E por quê?
Porque tudo aqui no Brasil, principalmente em termos de Educação, é assim: a “toque de caixa”! Mesmo que se disfarce camuflando com uma possível “cumplicidade” de quem realmente entende… como eu já fui testemunha e parte integrante. Nunca me esqueci de certa vez em que fui convidada a participar de um simpósio em Curitiba, aparentemente para discutirmos sobre mudanças (é o que a memória não quis lembrar: não sei mais o ano, nem a que grau de ensino se referia. Provavelmente a ensino médio mesmo, já que foi o grau em que mais lecionei na vida). O que sei é que ficamos acho uns dois dias em reuniões com educadores do Paraná todo, aparentemente discutindo e fazendo relatórios sobre pontos importantes de currículos e afins. Quando chegou a hora de abrir a discussão para o grande grupo (reservaram para isso umas poucas horas da tarde de uma sexta-feira!), foi tudo como eu disse: a “toque de caixa”, sem sequer ponderações, debates. Sem contar que havia uma boa parte de “conscientes professoras” que não voltaram à tarde, já que iríamos embora à noite e elas “precisavam” “fazer compras” nos shoppings da “cidade grande”… Aí, para coroar, uma das “chefonas” do simpósio tirou “da manga” um relatório prontinho que seria o que iria ser encaminhado (Oh! Que surpresa!!). Um absurdo. Ou seja: já estava tudo pronto há tempos, mas “eles” precisavam dizer à sociedade que aquilo fora “extenuantemente discutido e aprovado pelos educadores do Paraná”.
Deu no que deu. Embora eu não me lembre o grau de ensino em que isso ocorreu (e não fora a primeira vez!), os índices do IDEB estão aí para comprovar. (Goioerê parece ser uma honrosa exceção nas séries iniciais (bem iniciais: as das escolas municipais…).
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Agora vem o Governo e “solta” mais uma bomba… através de uma medida provisória. Uma verdadeira “tsunami”, segundo li por aí.
Estão achando que eu vou criticar, né? rsrsrs!
Não vou. Quer dizer… não do jeito que estão pensando…
A ideia não é má. Senão, vejamos:
COMO É: todo mundo aprende o mesmo conteúdo (ou deveria dizer “observa” o mesmo conteúdo?) ao longo de três anos. Há TREZE disciplinas obrigatórias (português, matemática, química, física, biologia, artes, educação física, história, geografia, filosofia, sociologia, espanhol e inglês).
COMO SERÁ: Em metade do tempo, o conteúdo continuará igual para todos; na outra metade, os alunos escolherão as disciplinas que desejam cursar, dentro das principais áreas de conhecimento. O currículo obrigatório, ainda por definir, ficará bem mais enxuto, à exceção de português e matemática. Algumas disciplinas devem ser subtraídas da grade fixa. (FONTE: Revista Veja, 28 de setembro de 2016).
Não parece bom? Pois é! Bom demais! Eu mesma nunca consegui entender por que – já sabendo que iria ser professora de português – eu tinha que aprender tanta coisa complicada, desconectada de minha futura profissão – e, o que era mais terrível: coisas de que eu não gostava e sabia que nunca iria usar (como não usei até hoje!!)
Mas…
Vejo alguns problemas aí…
Primeiro que o corporativismo já começou a incentivar os alunos a irem às ruas para protestarem contra a mudança – mesmo nem sabendo ainda como ela será feita (nem estou falando daqui… vi na televisão hoje, segunda-feira, dia em que comecei a escrever isto);
Segundo, que esse mesmo corporativismo fará com que os professores entrem “em guerra” entre si – conforme também já testemunhei uma vez), porque todos vão achar que a sua disciplina é aquela que NÃO PODE SER RETIRADA… e alegarão “ene” motivos;
Terceiro – e este pode ser o pior – que não será fácil achar professores tão diversos para suprir os cursos que os alunos escolherão. Isso igualmente já testemunhei… Quando começou o PREMEN II, nós, os professores que iríamos assumir as aulas, tivemos que passar três meses em Ponta Grossa, fazendo um curso de adaptação. E daí? Daí que, após alguns poucos anos, alguns daqueles professores foram saindo, desistindo – até porque uns eram profissionais como contadores, enfermeiros, engenheiros, engenheiros agrônomos (tínhamos os cursos de Crédito e Finanças, Saúde, Construção Civil e Agropecuária, naquela época). E agora? O que fazer? Mil e um transtornos… turmas sem aulas… profissionais improvisados…
Talvez por isso mesmo a proposta de mudança aventada pelo Governo “inventou” um tal de “pessoas de notório saber” para dar aulas…
Então… complicado, né? O professor já é tãããão valorizado!!
Quarto: as quatro horas e meia que os alunos passam na escola subirão para sete. Como li na postagem de uma aluna (e bem que dei risada…): “Acabou meu ensino médio! A escola já é fraca, 7 horas dentro dela, como ter tempo de estudar pra passar na Federal?” – Só que o problema que vejo é a curto prazo: como suprir financeiramente esse aumento de professores, em plena crise do país? (porque dizem que já será implantado a partir de 2018. Tudo estará às mil maravilhas, então? Que ótimo!). E os alunos do noturno, hein? Quase 100% trabalhadores… (Bom… suponho que devem ter pensado nisso, mas, por enquanto, não achei nada escrito…)
Há um quinto problema (aliás… deve haver mais “um milhão”… mas esses são os que consegui enxergar, por enquanto…): como cada secretaria estadual (!!!!) definirá quais opções cada colégio oferecerá na outra metade do tempo… é claro que a escolha será limitada e elitista… Vamos supor que o aluno queira fazer Artes, por exemplo… mas na cidade dele nenhuma escola oferece. Na cidade vizinha – ou em outra bem longe – sim. E aí? Ou ele desiste, obrigando-se a “engolir” uma opção de que não gosta, ou muda de cidade – se tiver condições, lógico. Quantos terão? Nesse caso, tudo continuaria na mesma: o aluno estudando o que não gosta…
Ah! Lembrei de mais um… (o de sempre, aliás… do qual tenho falado inesgotavelmente…). E, pensando bem… talvez seja este, e não aquele anterior, o pior deles… Haverá um “currículo obrigatório” – isso já se sabe. E, dentro desse currículo, quais serão os conteúdos contemplados? Haverá planejamentos novos “de verdade”, realmente inovadores e atualizados, ou os de sempre, copiados de ano para ano? E as aulas… continuarão do tipo “cuspe e giz”, ou se adaptarão aos “tempos modernos”? Haverá uma mudança real ou, mais uma vez, irão colocar roupa nova sem tomar banho? “Por fora, bela viola, por dentro…”
Aí é que está…
É sobre esse tipo de coisas apontadas que deve, sim, haver um movimento… protestos, mesmo! Impedir que as coisas da Educação, de novo, sejam tratadas com tamanho imediatismo, sem pensar nas consequências… Não deixar que os educadores sejam, mais uma vez, usados para confirmarem o que o Governo já estabeleceu nas entrelinhas lá dele… Colaborar DE VERDADE para que as coisas REALMENTE mudem…
Enfim… a história, de certa forma, se repete… Entenderam, agora, o porquê do título?…