Em época de um estupro abominável da menina de dezesseis anos, todo mundo falou sobre violência e, sobretudo, do machismo que domina ainda nossa sociedade. Na semana passada falei sobre o tal “sagrado feminino”, de Dan Brown, aqui na minha “Labareda”, execrando o “machismo”… Meu amigo José Lucas Góes Benevides falou sobre a naturalização do machismo em seu “Papo Aberto”… Mas… e as mulheres?
Pode parecer absurdo, mas, infelizmente, existem, sim, mulheres extremamente machistas, que aceitam ser subjugadas e ficar em último plano como verdade incontestável, fazem julgamentos maldosos de outras mulheres e cobram dos homens uma postura provedora. São as partidárias daquilo que já virou piada, todos lembram por quê… rsrsrs!: “bela, recatada e do lar”…
O fato é que, conscientemente ou não, elas mesmas são as atrizes principais do teatro de “reforço ao machismo”…
São muitos os artigos sobre esse assunto, no entanto, muitos deles concordam com as seguintes situações em, que nós, mulheres e mães, ajudamos a perpetuar esse estado de coisas que diz que o homem é um “ser superior” e a mulher sua “súdita”:
– CRIAR FILHOS DE MODO DIFERENTE – aqui estamos falando de meninos e meninas. Ninguém aqui vai chegar ao extremo de pregar a ideologia de gêneros, “abrir” sobre travestis e transgêneros para filhinhos muito pequenos… mas também não dá mais para ficar naquele de “menino tem que brincar com caminhãozinho e menina, com boneca”. Não dá mais para ficar dividindo as tarefas de casa de forma desigual – com as meninas e as mães lavando a louça do jantar enquanto os meninos assistem à TV com os pais. Esses afazeres não dependem de sexo ou gênero para serem feitos. Só reforça o conceito errôneo de que HOMEM não pode trocar fraldas nem ajudar suas esposas em alguns afazeres. O mundo mudou… Não se pode “perder o trem da história”.
– A PROFESSORA (ESCOLA) SER PRESSIONADA PARA NÃO FALAR SOBRE A IGUALDADE DE GÊNEROS – Nesse caso, não podemos esquecer que a questão de gênero vai para além da discussão sobre sexualidade. É preciso desconstruir o discurso retrógrado e alienante sobre a denominada “ideologia de gênero” de que já falamos acima. “A escola deve propor as mesmas oportunidades para meninos e meninas, contribuindo com sua autonomia e com a construção de uma sociedade sem violência de gênero física e psicológica. No âmbito da escola, é possível realizar projetos interdisciplinares, eventos, apresentações artísticas, concurso de cartazes e programas de rádio sobre este tema”. Principalmente, talvez, no Ensino Médio, certos temas deveriam ser debatidos. (Eu começaria antes, mas aí… ai, ai! Haja luta contra o preconceito!). O Plano Nacional de Educação (PNE) e os Planos Estaduais e Municipais de Educação bem que têm tentado introduzir isso nos currículos, mas tropeçam invariavelmente em evangélicos e religiosos diversos que usam a Bíblia como escudo para a própria insegurança em relação à educação que dão em casa a seus filhos, e políticos das bancadas evangélicas que se aproveitam disso para robustecer suas plataformas eleitorais, fazendo o maior escarcéu com esse assunto só para ganharem mais votos. Essas bancadas religiosas afirmam que essas discussões deturpariam os conceitos de homem e mulher, destruindo o modelo tradicional de família. Mas não é isso o que se pretende, e sim, que as diferenças sejam RESPEITADAS. Ninguém precisa “amá-las”! Elas existem, sim, e ponto! Adianta querer “tapar o sol com a peneira”?? (estando fora da escola, nem sei a quantas anda isso no PNL. Talvez já tenha sido aprovado… Depois alguém me conta?). A escola é um dos locais – talvez até o mais propício, para se falar sobre o bullying, racismo, agressões físicas aos homossexuais, e outras iniquidades. Enfim… RESPEITO para com seres humanos em geral. Há que se parar com esse incentivo irracional ao ódio…
– ELA NÃO É MULHER PRA CASAR – Esse comentário é, muitas vezes, repetido pela própria mulher, que pode não se dar conta da separação preconceituosa e machista que se faz entre ‘mulheres para casar’ e ‘mulheres para transar’, com a intenção de se diferenciar das chamadas “periguetes”.
“As mulheres acabam reproduzindo a lógica da sociedade machista. A culpa [desses atos] não é das mulheres individualmente, mas do patriarcado que se reproduz segundo esse sistema”, aponta Tica Moreno, socióloga da Sempreviva Organização Feminista. É o reforço da “mulher-objeto”…
– CRITICAR MULHERES COM VIDA SEXUAL ATIVA – ainda dentro daquela visão tradicionalista de “pecado”… da época em que nossas avós e tataravós ensinavam que “mulher decente não pensa nessas coisas”. Um artigo que li cita como aquele “lixo” de programa, o Big Brother Brasil, reproduziu um julgamento comum que a sociedade faz das mulheres solteiras que têm uma vida sexual ativa e com diferentes parceiros, sendo tachadas por isso como promíscuas, enquanto os homens que têm a mesma atitude são celebrados como garanhões. O programa fez isso quando dois casais praticaram sexo frequentemente e sem falsos pudores, e o público majoritariamente feminino da atração eliminou as mulheres que faziam parte dos pares e manteve os homens no confinamento (não sei nem que edição foi essa…). Minha visão pessoal sobre isso é que as mulheres solteiras têm o direito de saírem com quem quiserem e quantas vezes quiserem sem por isso serem taxadas de promíscuas e indecentes. (Já repararam? Artista “pode”! Como elas falam em “maridos”, durante a vida trocam-nos várias vezes, e todo mundo acha normal. Por que não as outras “pobres mortais”?). Como eu disse, o mundo mudou faz tempo… “Assim caminha a humanidade”, doa a quem doer. Mas… daí a aceitar essa pouca vergonha que se vê em rede nacional é um pouco demais… Pra tudo neste mundo tem lugar e hora. Qual a lógica de o público feminino ter eliminado as mulheres e deixado os homens? (Culpada é a Globo de manter no ar um programa desses. Culpado é o público que ainda o prestigia!!)
– PÔR A RESPONSABILIDADE DA TRAIÇÃO SÓ NA MULHER – A toda hora sabemos de casos em que um homem comprometido trai sua namorada ou esposa com outra. Quem fica com a culpa? Ou a “sirigaita”, que seduziu o homem “indefeso”, ou a própria traída, porque, se o parceiro traiu, é porque “foi procurar na rua o que não encontrava em casa”. O homem? Ah, esse não tem culpa nunca, mas a mulher! “Esse tipo de ponto de vista [culpabilização da mulher] acaba tirando a responsabilidade dele”, pondera a mesma Tica já citada.
Muitas outras situações são apontadas, mas essas acredito que já tragam uma certa luz àquelas mulheres que desejam criar seus filhos para que sejam aptos a viverem numa sociedade que está em eterna metamorfose… sob pena de, daqui a alguns anos, serem eles os alvos de discriminação por estarem totalmente fora da realidade…
E então, mulher…
http://www.aratuonline.com.br/blogmulherzinha/2015/01/06/mulheres-machistas/