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Colunas

Nossas faculdades não sabem formar professores

sexta-feira, 18 novembro de 2016.

NOSSAS FACULDADES NÃO SABEM FORMAR PROFESSORES

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“O problema da formação de professores começa na faculdade. Os docentes de pedagogia e das licenciaturas – de matemática, língua portuguesa, biologia etc. – não sabem ensinar para quem dará aula. Isso porque eles mesmos não aprenderam como fazer isso. Para não dizer que a formação didática não existe, podemos dizer que ela é precária. A maioria dos futuros professores não aprende como lecionar. Não recebem na faculdade as ferramentas que possibilitarão que eles planejem da melhor forma possível como ensinar ciências, matemática, física, química e mesmo como alfabetizar. Muitos de nossos professores saem da faculdade sem saber alfabetizar crianças. É um problema grave.”

 

Essas são palavras da “professora Bernardete Gatti, de 74 anos, que estuda o assunto “professores” desde a década de 60. Fez seu doutorado na Universidade de Paris, pós-doutorado na Universidade de Montreal, Canadá e outro pós-doutorado na área, desta vez na Universidade da Pensilvânia, Estados Unidos. No Brasil deu aulas de psicologia da educação na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e atualmente coordena as pesquisas da Fundação Carlos Chagas.

Claro que esse assunto me chamou a atenção assim que bati os olhos no título de uma entrevista publicada na revista Época de 31 de outubro deste ano… “Roubei” o título para a coluna de hoje.

Depois de ler “tudinho”, fiquei pensando até que ponto ela estaria certa ou errada…

Muitas das coisas que ela diz eu já escrevi nas minhas colunas, com outras palavras. Outras, são fruto de sua pesquisa particular.
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Ela defende, sobretudo, que nenhum curso que se proponha a formar professores pode ser bom se não der ênfase às práticas de como ensinar o que, segundo afirma, não ocorre nas nossas faculdades.

Isso é uma coisa que eu já testemunhei… ninguém me contou. O incrível é que, embora eu tenha visto isso quando da minha época de diretora, vejo até hoje acontecendo: os recém formados professores, em sua maioria, se veem totalmente perdidos ao iniciarem suas funções como educadores. “Bernardete é a favor da criação de um exame nacional para professores, do aumento de salário, como peça-chave para mudar o perfil dos candidatos à profissão, e de avaliações constantes de professores, atreladas à remuneração.”

Aqui certamente haveria polêmica… “Onde já se viu fazer um exame nacional para professores?” – dirão muitos. Ainda mais se eu acrescentar aqui que ela acha que esse exame deveria ser feito aos moldes do feito pela OAB! Ela cita que isso até já foi tentado, mas que não foi adiante porque há muita resistência e interferência política em relação a isso. Diz que não sabe se essa seria uma solução, mas que um exame nacional como o da OAB seria  um indicador do nível de formação de nossos professores.

Agora… com a outra coisa que ela falou, todos concordariam, com certeza. Até eu! (aumento de salário).

Uma vez fiz uma coluna falando sobre essa ojeriza que alguns professores têm de serem testados. Nunca entendi isso… ou melhor… acredito que a única forma de entender é pensar que os que se rebelam são aqueles que têm telhado de vidro, ou seja: ou não dominam sua disciplina e/ou não têm domínio de sala de aula…

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A parte da remuneração acho óbvia… Como ela mesma diz, é preciso aumentar os salários para tornar a profissão mais atraente e chamativa para pessoas mais bem preparadas e incentivar os que já estão nela a melhorar. Isso só não enxergam mesmo os “governantes-chave”, para quem não interessa a melhoria da classe e a consequente conscientização que isso traria aos alunos como cidadãos.

Uma coisa que achei incrível foi sua declaração de que ela “constata em entrevistas e em pesquisas com docentes das faculdades que eles não têm a noção de que estão formando um profissional da Educação, que vai para a sala de aula lidar com crianças e adolescentes.” – Como assim? Em que mundo vivem esses profissionais, então?

Segundo Bernardete, eles trabalham para formar intelectuais e pesquisadores o que, segundo ela, é importante, mas é apenas parte da formação. Afirma que os acadêmicos chegam a ficar escandalizados quando se diz a eles que eles têm que formar professores para a sala de aula. Acho isso impressionante!! E o pior é sua afirmação de que “essa mentalidade vem de longe, lá dos séculos XVI, XVII. E até hoje prevalece.” Geeeente!!

Dentre suas informações estarrecedoras, há ainda a de que 80%, hoje, é formado por instituições privadas, em muitas das quais os cursos são “encurtados (o que não é permitido por lei) e, de certa maneira, aligeirados.” Isso acontece porque as aulas podem ser substituídas por seminários culturais e atividades programadas – que não são feitos da maneira correta.

Outro problema são as formações através de cursos a distância, (60%) que tornam ainda mais precárias as condições de o aluno que passa por esse tipo de ensino se sair bem numa sala de aula. “É despreparado, especialmente, para trabalhar com alfabetização. Por isso, vemos esses resultados de alfabetização problemáticos no país (13 milhões de pessoas não sabem ler e escrever. Uma em cada cinco crianças de 8 anos não lê).”

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As doenças traiçoeiras são o maior perigo! É bom ficarmos atentos!

 

Sobre as 400 horas de estágio obrigatório pelo qual um professor precisa passar, ela constatou que essas horas não são cumpridas como deveriam… que esses estágios são frequentemente feitos a toque de caixa, que não há controle rígido sobre se essas horas foram realmente cumpridas ou só foi assinada uma declaração por alguma instituição que nunca o teve em sala de aula.

Outro tema muito bem apontado é sobre a estabilidade. Afirma que a vantagem da estabilidade é que se pode investir bastante no professor porque ele ficará na rede, mas que os esforços de especialização são punidos porque temos uma distorção. “Como as faculdades são muito ruins, o que deveria ser uma especialização vira uma formação básica dada quando o professor já tem alunos em sala. A formação continuada deveria ser um aprimoramento, uma forma de enriquecer as aulas que ele já deveria saber conduzir. Isso não acontece. Então, bancamos cursos para formar alfabetizadores, cursos para dar iniciação em matemática, cursos para professores de ciências. Estados e municípios não têm condições de programar e de controlar o que é feito nessas formações continuadas, e os resultados educacionais continuam sendo bastante precários apesar de todo o dinheiro investido – que não é pouco”.

A desvantagem da estabilidade é que prejudica o desenvolvimento do profissional, porque pode gerar muita acomodação. E disso também tenho sido testemunha (acho que todos nós… não?). Segundo ela, essa é uma questão que tem que ser discutida em profundidade.

Como constatado, difícil não dar razão a essa pesquisadora. Afinal, ela tem uma vida dedicada a isso. Sabe o que está falando…

Sobre uma possível solução para garantir a estabilidade sem comprometer a qualidade “é acompanhar com rigor o estágio probatório de três anos (até então o professor não tem estabilidade) e estabelecer pontos de passagem na carreira atrelados a aperfeiçoamento, aumento de qualidade da aula e remuneração.”

Assunto sério, minha gente! Muito sério mesmo! Como se vê, há muito mais coisas para se mexer na Educação “do que sonha a nossa vã filosofia”!!

http://epoca.globo.com/educacao/noticia/2016/11/bernardete-gatti-nossas-faculdades-nao-sabem-formar-professores.html

 
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