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Campo Mourão, 1976. Representando Goioerê nos Jogos Abertos, Pedro disputou a modalidade de salto em altura. Confiante, disse antes da prova a alguns amigos que, se ganhasse, voltaria a pé até sua cidade. Pronto, ele venceu. Mas, ao embarcar no ônibus da delegação, para retornar os 70 quilômetros, a turma cobrou a promessa. Então, calmamente, desceu do coletivo e se pôs a caminhar o trecho. Entre andar e correr, chegou apenas no outro dia. Lá, foi apanhado por uma comitiva. E comemorou a vitória numa carreata.
A história de Pedro Thomaz Rodrigues, 68, ainda é pouco conhecida na cidade. No entanto, ele a conta com prazer, como se fosse ontem. Mesmo já um senhor, tem olhar de menino. E isso também se vê na prosa descontraída. Sempre sorrindo, é um eterno brincalhão. Muito possivelmente, a fórmula para conquistar tantas medalhas na juventude.
Naquele ano, o ônibus de Goioerê deixou Campo Mourão às 10 da noite. Mas promessa é promessa. Mesmo no escuro, a cumpriu. A estrada ainda era de terra. Ao lado, apenas mato. Sozinho iniciou a jornada. No entanto, 20 quilômetros depois, ouviu rugidos. “Certeza que era onça. Entrei em Farol e esperei um pouco. Depois segui”, disse.
À frente, com fome, parou na única venda à beira da rodovia. Comeu pão com ovo e mandou ver uma Caracu. Bastou se alimentar, pra retomar o trecho. “Ei ficava com medo de atravessar as pontes. Eram todas velhas e de madeira”, contou. Mesmo assim, não havia mais o que fazer. Já estava no meio da empreitada. Ou seguia, ou a onça pegava.
“Ás vezes eu dava uma boa corrida. Mas na maior parte do trajeto, apenas caminhei”, lembrou. E foi assim, que chegou à entrada da cidade somente no outro dia, por volta das 13 horas. Lá, uma comitiva o aguardava para comemorar. Mas não a promessa. Mas a conquista da medalha de ouro no salto. Naquele ano, Pedro pulou 1,86 metro de altura. Um ano depois, em Arapongas, foi bicampeão, pulando 1,89. “Aprendi a lição e, desta vez, não prometi nada”, disse ele, rindo.
Pedro nasceu em Santa Cruz do Rio Pardo, em São Paulo. Filho de comerciantes, teve outras quatro irmãs. Ainda criança, os pais mudaram para Assis. E foi ali, onde iniciou os primeiros passos rumo aos esportes. Primeiro teve aptidão ao basquete. Depois, ao atletismo. Em 1973, no Rio de Janeiro, conquistou o terceiro lugar no salto em altura, no Troféu Brasil.
Dois anos depois, já em 75, uma prima o convidou para participar de jogos regionais em Goioerê. Ele foi. Gostou tanto da cidade que, já em 76, mudou de vez com a esposa, Eliana. A partir dali, começou a representar a cidade em modalidades de basquete e atletismo. Ao mesmo tempo, conseguiu vaga no departamento de esportes da prefeitura. Onde continua até hoje.
Jogando basquete, ainda se recorda de uma partida contra a equipe de Maringá, em 1988. Lá, o tempo fechou em quadra. Nervosos, o pau quebrou entre os atletas. “Naquele dia eu quase morri. Um grandalhão do Maringá me abraçou por trás. Ele pesava uns 120 quilos. E não me largava. Estava quase sem respirar. Outros colegas tiveram que intervir, senão tinha ido”, lembrou. Segundo contou, a quizumba não partiu dele.
A vida esportiva marcou e serviu de exemplo aos dois filhos. Ana Paula, também jogou basquete. Hoje, atua junto ao município, como professora das quatro linhas. O filho, Pedro, mora em Santa Catarina, onde da aulas de artes marciais. Pedro, o pai, já tem quatro netos.
“Sempre fui torcedor do Santos. Sou viúvo do Pelé”, garante. Pedro jogou basquete até os 44. Mas foi no futebol onde lesionou o joelho. Ligamentos e menisco já eram. Por causa das lesões, ele caminha com certa dificuldade. Mas nada que tire o sorriso, muito menos o sono. Além da filha, duas das quatro irmãs de Pedro, também foram jogadoras de basquete. Uma delas, inclusive, jogou com “Magic Paula”, em Assis.
Pedro teve o pai, Pedro, e o filho, Pedro. Assim sendo, também é devoto de São Pedro. Não podia ser diferente. Na sua vida, concluiu o segundo grau. Mas ao invés de uma profissão burocrática, ou não, preferiu deixar o destino o levar ao esporte. Atualmente, já está aposentado. Bebe a sua cervejinha e mantém o sorriso diante dos problemas do dia a dia. Um passo de cada vez. E o sorriso, sempre. (Tribuna do Interior/Dilmércio Daleffe)