O agronegócio brasileiro tende a conquistar novos espaços no mercado internacional, devido a crescente demanda por alimentos, sobretudo da China. O país que enfrentou os primeiros focos de Coronavírus (Covid-19) no mundo precisará rever os protocolos sanitários pós-pandemia e necessitará da produtividade de outros países para garantir o sustento da população. Por sua vez, o Brasil vem batendo recordes de exportação e demonstrando o exemplar trabalho sanitário.
O panorama é do especialista em agronegócios no Brasil, Alexandre Mendonça de Barros, um dos principais consultores em projetos nas áreas de análises macroeconômicas na agropecuária e na agricultura nacional, que participou sexta-feira, 5, da primeira live realizada pela Copacol, transmitida pelo Canal Oficial no Youtube. O engenheiro agrônomo e gerente de insumos da Copacol, Fernando Fávero, mediou a live levando ao convidado os questionamentos feitos em tempo real pelos cooperados.
O Brasil terá duas possibilidades: ofertar carnes ou grãos – abrindo uma grande lacuna para negociações, que deve ser conquistada pelo governo brasileiro. “Os chineses poderão produzir mais carne para depender menos das importações. Se for esse o caminho, eles precisarão mais de soja – o Brasil poderá fornecer grãos para ração”, diz Barros, que argumenta na necessidade de uma visão estratégica do nosso país. “Podemos ofertar mais soja, mas com a condição de a China comprar mais carne. O governo chinês tem que ter confiança que não vamos falhar. O povo chinês está avaliando esse momento. O Brasil pode sair grande desta crise”, afirma.
A carne suína é a mais consumida na China, mas em função da peste africana que atingiu os animais outras proteínas tiveram que ser importadas, como frango e peixe. Para a retomada dos planteis, os chineses tendem a importar 35 milhões de toneladas de soja a mais para alimentar as criações. “O alimento dos suínos era muito precário, em estruturas improvisadas. Só metade dos suínos chineses se alimentava de ração – isso deve mudar. Para a transformação sanitária, a China precisará mudar os padrões sanitários”, explica Barros.
Os Estados Unidos estão com uma safra milho recorde encaminhada, frente ao Brasil que tende a enfrentar redução devido estiagem. Com a alta demanda internacional por soja, com negociações intensas – sobretudo o brasileiro que tem aproveitado a alta taxa cambial – os estoques merecem a atenção. “Se esse ritmo continuar, o estoque de soja será baixo – isso exige atenção do mercado interno”.
COVID-19
O Brasil seguiu um caminho exemplar, segundo Barros, nos cuidados contra o Covid-19 – sobretudo pelo setor do agronegócio: enquanto os Estados Unidos precisou paralisar frigoríficos de maneira intensa e a Europa suspendeu o trabalho rural, o Brasil consegue manter o trabalho redobrando todos os protocolos de segurança com os colaboradores. “No Brasil é louvável a situação – dá orgulho esse cuidado com os protocolos. Estamos vendo a importância do rigor seguido que deve continuar. A doença demora, mas chega”, alerta Barros.
TAXA CAMBIAL
Os altos valores de negociação da saca de soja e milho também estiveram em discussão. Em maio a soja chegou a R$ 100 e o milho R$ 55. Barros explica que o bom preço se deve apenas a taxa cambial, alterada frente a Covid-19 no mundo e no Brasil devido conflitos políticos.
“O milho tem o menor preço nos últimos 14 anos – a produção americana é a maior do mundo. A soja também tem o valor mais baixo. A alta que tivemos se deve apenas ao câmbio”. Ele ressalta que o momento é de o produtor avaliar o custo de produção e ser cauteloso nas negociações. “Se comprar insumos, faça uma proteção. É um ano para ser conservador na relação de troca. Vamos viver muita volatilidade cambial neste ano. Tem muitas incertezas pela frente. Aproveitem o ciclo bom, com bons resultados e boa relação de troca”.