Da união surgirá a Natura Holdings, em que os atuais acionistas da brasileira terão 76% de participação. Cada ação Avon será convertida numa fração de 0,3 do papel da nova companhia.
A conclusão da operação está prevista para o início do ano que vem, após a aprovação dos órgãos reguladores. O acordo prevê sinergias de até US$ 250 milhões e envolve os negócios da Avon na América Latina, Leste Europeu e Ásia — a divisão americana já havia sido vendida para o fundo Cerberus em 2015.
EXPANSÃO PELA AQUISIÇÃO. Essa não é a primeira aquisição internacional da Natura. Em 2013, comprou a australiana Aesop e, em 2017, a The Body Shop . “A união de hoje cria uma força importante no segmento. A venda direta já era uma rede social antes mesmo de a palavra existir, e a chegada da tecnologia e da globalização apenas multiplicou as oportunidades”, afirmou, em nota, Luiz Seabra, cofundador da Natura.
A conclusão do negócio foi anunciada após o fechamento da Bolsa de São Paulo (B3). As ações da Natura tiveram alta de 9,43%, impulsionadas, desde cedo, pela antecipação do acordo em reportagem do jornal britânico Financial Times. O valor de mercado da empresa bateu R$ 26,6 bilhões, um ganho de R$ 3,3 bilhões em apenas um pregão. O Ibovespa, principal índice da Bolsa, teve nesta quarta leve queda de 0,13% . Em Nova York, os papéis da Avon subiram 9,06%, com a empresa avaliada em US$ 1,54 bilhão.
Na avaliação de Andres Estevez, analista do banco Brasil Plural, a operação é positiva para a Natura porque não comprometerá o caixa da empresa. A compra será financiada por um conjunto de bancos.
— A maior preocupação dos investidores era com um aumento do endividamento, mas será uma aquisição feita principalmente por troca de ações. A Natura se beneficia com a força da marca da Avon e com os ganhos de sinergia no Brasil — avaliou Estevez.
Para especialistas, a união entre Natura e Avon é vista como um passo para enfrentar a maior concorrência em mercados como o Brasil, que vem recebendo investimentos de diversas empresas do setor de vendas diretas, como Hinode, Jequiti, Mary Kay e Jeunesse.
FATIA GLOBAL DE 2,6%. Segundo a consultoria Euromonitor, o faturamento da categoria de itens de beleza no Brasil, que reúne produtos como cosméticos, desodorantes, itens para cabelos e protetores, entre outros, chegou a R$ 109,7 bilhões, um aumento de 5,1% em 2018 em relação ao ano anterior. A Natura, com o negócio fechado com a Avon, passará a ter 16,6% desse mercado. No mundo, responderá por uma fatia de 2,6%.
Renato Cotta, professor do Coppead, lembra que a estratégia da Natura é buscar novos mercados, e a união com a Avon dará mais fôlego no Brasil e acesso ao mercado internacional. Para Eduardo Yamashita, da Gouvêa de Souza, o segmento de vendas diretas enfrenta muitos desafios:
— As duas empresas conseguirão ter muitas sinergias, como em gestão de revendedoras, logística e infraestrutura. Juntas, buscarão soluções para um mercado que está passando pela concorrência com outros canais, como a compra pela internet.