Todo mundo já disse que a pandemia causada pelo coronavírus é a maior desde a célebre Gripe Espanhola que matou mais de 25 milhões de pessoas há pouco mais de um século, em 1918.
Desta vez a humanidade está mais instrumentalizada com recursos médico-hospitalares, de modo que haverá um número muito menor de vítimas fatais. Mas nenhum habitante do planeta escapará desta tragédia: todos perderão alguma pessoa próxima, parentes ou amigos, e de uma forma ou de outra o Covid-19 entrará para a história universal como uma das maiores desgraças dos tempos modernos. Até porque o coronavírus não será uma catástrofe exclusivamente no setor da saúde, mas terá efeitos deletérios na área social, na econômica e por consequência, na política.
Muitos setores econômicos diminuirão ou até desaparecerão enquanto outros vão crescer em relação ao seu tamanho atual. Vamos viver mudanças que ninguém esperava, seja nos sistemas de trabalho, seja nos hábitos que surgirão. Tudo isso ainda é incerto, e ninguém consegue prever o que será do mundo dentro de 4 ou 5 anos, quando esperamos que o inimigo tenebroso tenha ido embora.
Mas há um fato que já está consolidado. No mundo todo, ficou evidente que o tema da segurança alimentar é o mais importante para a sobrevivência humana. Pode faltar tudo, menos comida. Pode fechar loja, fábrica, restaurante, cinema, estádio de futebol, academia, pode fechar tudo, mas a agricultura não pode parar. Nós do campo não podemos parar. Temos que colher, transportar, embalar e distribuir o alimento.
E é fundamental que toda gente compreenda uma circunstância especial quanto ao setor rural. Nossa atividade é determinada por uma força superior sobre a qual não temos nenhum controle: é a natureza. É ela que determina a hora de plantar, de fazer tratos culturais, de colher, de transportar. Ela manda fazer a inseminação artificial na hora certa, as vacinações dos rebanhos e sua imunização. Nosso único papel é ajudá-la com tecnologias que facilitem seu trabalho. Portanto, todos os serviços que vem depois da colheita, a industrialização, a embalagem e a distribuição também precisam se adaptar ao ciclo da natureza, que é simplesmente o ciclo da vida. Nós, produtores rurais, trabalhamos para ajudar a natureza a garantir a vida para a humanidade, para todo o sempre.
Parece que esta “novidade” entrou de uma vez por todas na cabeça das populações que sentiram a ameaça de falta de comida.
Tomara que assim seja. Isso é importante por uma razão óbvia. Nos países desenvolvidos do mundo todo existem políticas públicas que apoiam a atividade rural produtiva com mecanismos protecionistas de várias formas: subsídio ao crédito e às exportações, preços mínimos garantidos de fato pelo governo, tarifas que impedem a entrada de produtos agrícolas de outros países, quotas de importação e seguro rural. Porque os governos estrangeiros fazem isso? Porque acham os agricultores mais bonitos? Não, nada disso. Eles protegem o trabalho rural exatamente para que não falte comida no prato do seu consumidor. Eles sabem que pode faltar tudo, menos comida.
E daqui a 10 anos a oferta mundial de alimentos precisa crescer 20% para ninguém passar fome. E para o mundo ter este aumento de 20%, as instituições acadêmicas globais dizem que o Brasil tem que crescer o dobro, isto é, 40%.
Por isso é que precisamos de políticas públicas que nos deem igualdade de oportunidade para competir com concorrentes de todos os continentes para sermos os campeões mundiais da segurança alimentar. Tomara que nossos líderes políticos entendam isso. Felizmente, nossa Ministra da Agricultura conhece bem o assunto e está lutando ao nosso lado para melhorar nossas políticas públicas e também para abrir mercados para os excedentes que produzirmos.