Uma brincadeira perigosa entre crianças e adolescentes viralizou nas redes sociais nas últimas semanas e deixou pais e comunidade escolar em alerta. O “desafio da rasteira” ou “quebra-crânios”, como ficou conhecido na internet, consiste em três pessoas ficarem lado a lado enquanto a do meio pula. Ao pular, a pessoa do meio leva uma rasteira das duas pessoas que estão ao lado, o que resulta em uma queda arriscada. A brincadeira tem levantado grandes discussões a respeito dos riscos de desafios da internet. Anteriormente, jogos como Baleia Azul e o desafio do aerossol já fizeram vítimas no Brasil e no mundo.
O desafio “quebra-crânios” pode provocar trauma na coluna cervical ou no crânio da pessoa caída. Em casos mais graves, a queda pode ocasionar uma hemorragia intracraniana, no qual a pessoa até levanta e fica bem nas primeiras 24 horas, mas sofre desmaio, confusão mental e até o óbito se a vítima não for submetida a uma cirurgia de emergência.
De acordo com o ortopedista Marco Makoto, os riscos do desafio são seríssimos. “Na queda de costas e da altura em que aparece nos vídeos, é possível que a pessoa tenha qualquer tipo de lesão cranioencefálica grave. Por isso, podem ocorrer convulsões, hemorragias intracranianas e lesões neurológicas muito graves”, afirma.
O ortopedista explicou que a rasteira que a vítima sofre deixa toda a região da coluna exposta. “Por isso, podem ocorrer lesões na coluna e na medula, o que pode causar paraplegia e tetraplegia”, acrescenta.
WHATSAPP. No WhatsApp, pais e responsáveis por crianças e adolescentes se mostram preocupados com a brincadeira. “Pessoal, vou utilizar o grupo agora para uma informação de utilidade pública. Fiquem atentos com as escolas onde seus filhos estudam pois está circulando uma brincadeira aberrante onde já houve crianças com fratura craniana e leva a grave sequelas ou a morte”, diz uma das mensagens compartilhadas no aplicativo. Em outra, os pais alertam: “brincadeira idiota, que está na moda, e pode causar graves danos na coluna, cabeça e, inclusive, levar a óbito. Alertem seus filhos e amigos.”
Junto das mensagens são encaminhados um ou mais vídeos que mostram a brincadeira. Em um deles, alunos do Ensino Médio de uma escola na Venezuela realizam o desafio. Pelo Twitter, a escola confirmou que o incidente aconteceu em sua instituição e que os responsáveis pelos alunos foram chamados à direção. No vídeo, é possível observar que menino que está no meio do trio bate fortemente a cabeça no chão.
No Brasil, brincadeiras desse tipo levaram uma menina de 16 anos à morte em Mossoró, no interior do Rio Grande do Norte. O caso aconteceu em novembro do ano passado quando a adolescente sofreu traumatismo craniano ao cair depois de ser rodopiada por outros dois colegas.
PAPEL DA FAMÍLIA E DA ESCOLA. Em Londrina, o Núcleo Regional de Educação (NRE) não registrou casos do desafio da rasteira nas escolas. Maria Ivone de Morais Borges, assistente da chefia do Núcleo, afirma que, em decorrência da divulgação dos vídeos e dos avisos pelo WhatsApp, pais, professores e escolas já receberam orientações do órgão. “Enviamos um informativo para as escolas e para os professores. Nós orientamos que os profissionais abordem o assunto com as crianças de modo que não estimule nelas a curiosidade”, informou.
Além disso, Maria Ivone diz que os pais também receberam orientações. “É preciso que os pais e responsáveis observem as crianças em casa. A primeira orientação é que a família preste atenção no filho. Por isso, indicamos que é preciso estar sempre atento ao que a criança vê na internet, ao que ela faz nas redes sociais”, orienta.
O QUE DIZ A LEI. De acordo com a advogada Jéssica Onofre, caso o desafio seja de autoria de um adulto, pode configurar lesão corporal culposa, descrita no parágrafo 6 do Art. 129 do Código Penal. Em alguns casos, os maiores de idade podem inclusive ser enquadrados no crime de tentativa de homicídio. Isso porque, mesmo que não exista intenção, ao realizar a brincadeira, a pessoa assume o risco de machucar o outro gravemente ou até causar o óbito.
Entretanto, como a brincadeira é comum entre menores de idade, Jéssica afirma que é preciso avaliar o que diz o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente). “Se o desafio ocorrer entre adolescentes, pode configurar um ato infracional regido pelo ECA. No caso de crianças, a situação não chega nem a configurar ato infracional, já que o Estatuto não prevê” – aponta a advogada.
Fonte: bonde.com.br