O Dia Mundial de Combate à Aids é celebrado nesta quarta-feira (01). Visto que essa condição registra números alarmantes e ainda é cercada de preconceito, desinformação e mitos, a IstoÉ esclarece a seguir tudo o que é preciso saber sobre o vírus e sua prevenção, com base em informações oficiais e explicações da médica Priscilla Alexandrin, infectologista do Hospital São Lucas Copacabana, Rio de Janeiro.
Aids e HIV: diferença e estatísticas. A síndrome da imunodeficiência adquirida (aids, na sigla em inglês) é uma doença infectocontagiosa causada pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV, na sigla em inglês), que ataca o sistema imunológico, responsável pela defesa do organismo. Segundo o Ministério da Saúde, o vírus é capaz de alterar o DNA da célula linfócitos T CD4+ (glóbulos brancos do sistema imunológico) e fazer cópias de si mesmo. Após se multiplicar, rompe os linfócitos em busca de outros para continuar a infecção.
Algumas pessoas soropositivas (portadoras do vírus) vivem anos sem apresentar sintomas e sem desenvolver a doença, embora ainda possam transmiti-la. Portanto, é importante destacar que ser portadora de HIV não significa ter aids, visto que um é o vírus e o outro a doença, respectivamente.
Dados da UNAIDS Brasil (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids no país) apontam que 37,6 milhões de pessoas estavam vivendo com HIV no mundo em 2020. As estatísticas destacam a presença do vírus entre o gênero feminino, indicando que semanalmente, cerca de 5 mil jovens mulheres entre 15 e 24 anos são infectadas. Além disso, mulheres e meninas foram responsáveis por aproximadamente 50% de todas as novas infecções por HIV no último ano.
No Brasil, o vírus sobressai entre o gênero masculino. De acordo com o Boletim Epidemiológico do ano passado, 920 mil pessoas soropositivas vivem no país. O Ministério da Saúde aponta que a maior concentração de casos está entre jovens de 25 a 39 anos (492,8 mil), de ambos os sexos — 52,4% casos entre os homens e 48,4% entre as mulheres.
Transmissão do vírus: mitos e verdades. A infectologista Priscilla Alexandrin explica que a transmissão do vírus acontece de três formas: sexual (sexo vaginal, anal ou oral sem preservativo), vertical (vírus é transmitido da mãe para o feto durante a gestação ou para o bebê através da amamentação) e parenteral (compartilhamento de instrumentos perfurocortantes contaminados ou transfusão de sangue contaminado).
O HIV está presente em fluidos, como sangue, esperma, secreção vaginal e leite materno. Portanto, desde que não haja contato com esses canais, não é preciso se preocupar. Ou seja, não é possível ser contaminada pelo abraço, beijo, aperto de mão, compartilhamento de talhares e copos, ao usar o mesmo banheiro ou piscina, por exemplo.
Embora o sangue seja um transmissor do vírus, não há possibilidade de contaminação pela picada de insetos. “Ainda não há nenhum relato de transmissão do vírus HIV dessa forma. Portanto, a luz da ciência atual, não é possível contrair o vírus por picada de mosquito ou de qualquer outro inseto”, garante a médica.
Como evitar a contaminação. Evitar as formas de contaminação é essencial. Usar preservativo durante as relações sexuais é um dos melhores métodos, além de não compartilhar agulhas ou seringas (usar materiais descartáveis) e utilizar luvas para manipular secreções.
Em casos de grávidas soropositivas, o acompanhamento médico na gestação pode evitar a transmissão vertical. Segundo a infectologista, o bebê também deve ser acompanhado após o nascimento para reduzir o risco de contaminação.
“É necessário que a gestante esteja em tratamento antirretroviral, com carga viral indetectável. O parto deve acompanhado, seguindo todos os protocolos, e o recém-nascido também precisa ser tratado. Se todos os protocolos forem seguidos corretamente do pré-natal ao parto, a transmissão é extremamente improvável. A criança pode nascer com anticorpos do HIV — passados pela mãe —, mas são somente anticorpos, o que não significa contaminação”, esclarece Priscilla.
Sintomas e consequências. Quando o sistema imunológico é atacado pelo vírus, alguns sinais podem ser notados. O Ministério da Saúde separa os sintomas por fases. Segundo o órgão, a primeira é chamada de infecção aguda, quando ocorre a incubação do HIV — de três a seis semanas. Entre 30 a 60 dias após a contaminação, o corpo produz anticorpos anti-HIV e apresenta os primeiros sintomas, como uma gripe, e pode incluir febre e mal-estar.
A outra fase consiste em interação entre as células de defesa e as mutações do vírus. No entanto, é assintomática e pode perdurar por muitos anos.
Na sequência, o Ministério da Saúde destaca que “com o frequente ataque, as células de defesa começam a funcionar com menos eficiência até serem destruídas. O organismo fica cada vez mais fraco e vulnerável a infecções comuns. A fase sintomática inicial é caracterizada pela alta redução dos linfócitos T CD4+ que chegam a ficar abaixo de 200 unidades por mm³ de sangue. Em adultos saudáveis, esse valor varia entre 800 a 1.200 unidades. Os sintomas mais comuns nessa fase são: febre, diarreia, suores noturnos e emagrecimento”.
Essa condição pode resultar em doenças oportunistas, conforme o grau de deficiência imunológica. Priscilla destaca que as principais consequências são doenças como neurotoxoplasmose, meningite criptocócica, Sarcoma de Kaposi, citomegalovirose e histoplasmose.
Diagnóstico e tratamentos. Os médicos infectologistas são capacitados para diagnosticar, tratar e acompanhar pessoas soropositivas. A especialista indica procurar por atendimento médico após qualquer exposição aos fatores de riscos do vírus.
O teste para detectar o HIV pode ser realizado em qualquer unidade básica de saúde (UBS) ou laboratório particular. No entanto, é importante destacar que a efetividade do teste acontece somente a partir da quarta a sexta semana após o contato de risco. Priscilla destaca que isso acontece devido à janela imunológica — período que ocorre entre o momento do contágio até a positividade do teste, que é realizado baseado em anticorpos produzidos pelo organismo contra o vírus. A partir desse tempo de produção dos anticorpos no organismo, o teste pode detectá-lo precisamente, evitando o risco de resultado falso negativo.
“Ao ser diagnosticada, é preciso procurar um serviço de atendimento às pessoas vivendo com HIV/aids, visando iniciar o tratamento adequado. Atualmente, já temos um arsenal terapêutico com medicamentos antirretrovirais de alta potência e eficácia no controle dessa condição, a qual se tornou uma doença crônica. Um dos principais pilares da terapêutica é justamente a adesão ao tratamento e a manutenção de hábitos saudáveis de vida, bem como o acompanhamento com um médico especialista”, diz a infectologista.
Iniciar o tratamento precocemente pode garantir melhores resultados, como manter-se assintomática. O tratamento visa controlar o vírus no organismo, evitando os sintomas da aids, a partir da terapia antirretroviral adequada e indicada individualmente, com base em protocolos nacionais e internacionais.
Embora seja uma condição delicada, Priscilla tranquiliza dizendo que existem alguns relatos de cura do vírus, que ainda não são aplicados epidemiologicamente na população. Apesar disso, o controle eficiente, através da terapia antirretroviral de alta potência, tornou a aids uma doença crônica que permite boa qualidade de vida para as pessoas soropositivas.
Fonte: Isto É.