A escultura de uma manifestante do movimento Black Lives Matter (no Brasil, Vidas Negras Importam) , que substituiu a estátua do comerciante de escravos Edward Colston em uma praça de Bristol, na Inglaterra, foi removida 24 horas depois de ter sido colocada no local. Uma porta-voz do conselho da cidade confirmou que a imagem seria levada para um museu para que o artista Marc Quinn pudesse retirar ou doar para a coleção.
Segundo o jornal inglês The Guardian, o prefeito de Bristol, Marvin Rees, se manifestou quanto à retirada da estátua e explicou que não é uma atitude contra a manifestante.
“Não se trata de derrubar uma estátua de Jen, que é uma mulher impressionante. Trata-se de derrubar uma estátua de um artista de Londres que veio e a colocou sem permissão. Apesar de entender a vontade das pessoas de se manifestarem, a estátua precisa ser retirada porque ela não tinha autorização para ser colocada ali. Agora, o povo de Bristol é quem vai decidir o que ocupará este espaço”, afirmou.
Nas redes sociais, manifestantes dizem que o conselho deveria ter permitido que a estátua com a imagem da manifestante Jen Reid permanecesse no local por mais tempo, considerando que a escultura de Colston esteve no mesmo local por mais de um século.
Reid e Quinn disseram que qualquer produto da venda do trabalho será destinado a duas instituições de caridade escolhidas por Reid que se dedicam a melhorar o ensino da história negra nas escolas britânicas.
Linha do tempo
O Black Lives Matter surgiu em 2013 com o uso de uma hashtag com as mesmas três palavras nas redes sociais após a absolvição de George Zimmerman na morte a tiros do adolescente negro Trayvon Martin. No ano seguinte, Michael Brown e Eric Garner foram assassinados nos Estados Unidos e o movimento protestou contra a morte dos dois, o que legitimou as manifestações.
Em 2016, a luta pela vidas de pessoas negras se espalhou por países como Brasil, África do Sul e Austrália, onde ativistas começaram a tomar as ruas pedindo para que o poder público tomasse alguma providência quanto ao extermínio de pessoas negras. O movimento adotou o grito de guerra “Black Lives Matter” (Vidas Negras Importam) para amplificar suas lutas em seus próprios países e para apontar o que consideram uma abordagem hipócrita da imprensa e do governo.
No dia 20 de maio de 2020, George Floyd foi assassinado em Minneapolis, nos Estados Unidos, depois de ser estrangulado por um policial branco que ajoelhou-se em seu pescoço durante uma abordagem por supostamente usar uma nota falsificada de 20 dólares em um supermercado. Após sua morte, uma nova onda de protestos contra o racismo surgiu no país e se espalhou pelo mundo todo.
A estátua de Edward Colston, que foi projetada por John Cassidy e colocada no centro de Bristol em 1895, foi derrubada pelos manifestantes do Black Lives Matter no dia 7 de junho de 2020 e jogada no porto de Bristol. No dia seguinte, um grupo de homens brancos foi fotografado tentando resgatar a escultura de dentro do Rio Avon e um deles desceu até a água para amarrar uma corda no memorial feito de bronze e outros dois tentaram iça-la, mas sem sucesso.
Colston foi comerciante de escravos britânico que viveu de 1636 a 1721 e a estátua que leva sua imagem sempre foi motivo de controvérsia na cidade pela significado que ela traz. O prefeito de Bristol havia afirmado na época que iria retirar o monumento de dentro do rio, mas não pretendia reinstalá-la no mesmo local. A ideia seria exibir em um museu.
Na última quarta-feira, pouco antes das cinco da manhã, uma equipe dirigida pelo artista Marc Quinn instalou rapidamente e quase silenciosamente uma escultura com a imagem da ativista Jen Reid, do Black Lives Matter, e fugiu. A estátua feita em resina e aço e inspirada na manifestante ganhou os noticiários do mundo todo, porém a instalação da nova escultura não era sancionada pelo conselho e o prefeito ordenou que fosse retirada.