As fortes chuvas que atingiram Pernambuco no fim de semana causaram perdas que vão muito além de bens materiais, como mostram as imagens de casas caindo e carros submersos (veja vídeos aqui). Os mais atingidos foram moradores do Jardim Monte Verde, no limite entre o Recife e Jaboatão. Entre as vítimas, 91 até o momento, há relatos de quem perdeu uma família inteira em deslizamentos de barreiras e de quem busca familiares ainda desaparecidos.
‘Todo mundo morreu e eu fiquei’
O auxiliar de pedreiro Thiago Estêvão sobreviveu ao deslizamento de uma barreira, mas perdeu a mãe, os avós e primos.
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“Eu moro mais em cima, só que ontem aconteceu a tragédia, aí eu fui na casa dos meus avós. Fui chamar eles, tentar salvar eles. Todo mundo morreu e eu fiquei”, disse ele.
“Eu só pensava em Deus, eu estava até a testa sufocado pela lama. Fui tentar salvar meus avós, minha mãe foi junto. Quando cheguei na casa dos meus avós, só escutei um estalo. Quando vi, a barreira engoliu tudo. Eu pensei que ia morrer, porque não conseguia respirar, porque a areia estava pressionando tudo.”
A aposentada Lucineia Maria Souza de Brito está em busca da irmã de Lucinalva Maria de Souza, uma das pessoas soterraras pelo deslizamento da barreira. “Eu só quero encontrar minha irmã. Que situação a da minha família, meu Deus. Que tragédia.”
Lucineia também relatou que perdeu outros familiares e que, desde então precisa de medicamentos.
“Eu estou sob efeito de remédios, porque estou muito nervosa desde que soube do que aconteceu. Perdi quatro pessoas na minha família, não sei o que fazer. Meu sobrinho era tão jovem.”
‘A barreira veio como uma avalanche’
O pedreiro Thiago da Silva perdeu dois filhos, a mãe, Alderice Maria da Silva, e a esposa, Jaidete Lima de França, no momento em que saiu de casa para pegar uma enxada, na 4ª Travessa Nossa Senhora do Amparo, na comunidade de Bola de Ouro, no Curado IV, em Jaboatão dos Guararapes.
O homem também perdeu os filhos, Hadassa Lima da Silva e Felipe Gabriel Lima Farias, crianças de 2 e 4 anos, respectivamente.
“Acordei às 6h e minha mulher disse que a casa estava com infiltração. Ela pediu para eu pegar uma enxada, para ajudar. Quando eu saí, desabou tudo. A barreira veio como uma avalanche, descendo sobre umas seis casas. Levou minha família.”
“Cheguei de manhã, são quase 18h e não liberaram os corpos. E ainda tem gente soterrada lá, porque não chega bombeiro nem ninguém.”
‘Sem saber o que fazer’
O aposentado Genilson Sebastião está a procura do filho, da nora, da ex-esposa e do atual marido dela, que desapareceram em meio a escombros após o deslizamento de uma barreira também no Jardim Monte Verde.
O filho de Genilson, Wesley Sebastião da Silva, tem 26 anos e morava, junto com a companheira Udilane Maria, numa das casas atingidas pela barreira. A mãe de Wesley, Lucinalva Maria de Souza, e o companheiro dela, identificado apenas como Djalma, moravam em uma casa próxima.
“Eu estou só esperando que encontrem o corpo do meu filho. Eu moro longe, em outra cidade, e minha filha me ligou de manhã, contando do que aconteceu. Aí eu vim para acompanhar o trabalho. Estou sem saber o que fazer. Meu filho está enterrado, e a mãe dos meus filhos está soterrada também”, disse o aposentado.
‘Deslizou quando estavam movendo a geladeira’
O agente de negócios Elvis Drummond perdeu a irmã, Luana Beatriz Oliveira, e o pai dela, Ezequias Oliveira, que era pastor evangélico.
“Ela e o pai entraram dentro de casa para tirar uma geladeira do lugar, para que não estragasse por causa da chuva. A barreira deslizou quando estavam movendo a geladeira.”
“Faz dois anos que eu me mudei de lá, mas nasci e me criei em Monte Verde. Desde as 9h o pessoal está aqui no IML tentando liberar os corpos. Está um caos, muita burocracia, tem gente desde sexta-feira (20) aqui”, reclamou.
‘Atravessei ele num isopor’
A vendedora Luana Lemos perdeu o primo Joseildo Antônio da Silva Filho, que morava em Alagoas e estava no Recife visitando a família. A rua em que eles estavam alagou e, tentando passar pela água, o rapaz levou um choque elétrico.
“Alagou muito o beco. Eu passei primeiro, nadando, e ele passou depois, mas não tinha costume e pisou numa parte de vazamento de corrente. Eu tentei pegar ele e fiquei presa. Atravessei ele num isopor, porque a rua estava com cerca de dois metros de altura [de água].”
“Agora, o problema é liberar o corpo, porque não colocaram os documentos na ordem de chegada dos corpos ao IML”, disse a vendedora.
Fonte: G1.