O pequeno Ravi chegou ao mundo na última sexta-feira, 20 de agosto — um ano depois da morte de seu pai por complicações da covid-19. Marcelo tinha 47 anos e lutava contra um câncer quando contraiu o vírus. Em 29 de agosto de 2020, já entubado, infelizmente, ele acabou não resistindo. Quatro meses após a partida do marido, Eliziane Ourives Santos Lautenschlager, 30 anos, de Pelotas, no Rio Grande do Sul, decidiu realizar o sonho do casal de ter um filho. E com o sêmen que Marcelo havia congelado, ela gerou Ravi. “Depois de tantos anos de espera e de luta, ouvir o chorinho dele foi um renascimento pra mim. Muita emoção, um amor que não cabe no peito”, disse ela.
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Em entrevista exclusiva à CRESCER, a mãe contou que a pandemia prejudicou a luta contra o câncer. “Marcelo e eu tínhamos muitos planos, muitos sonhos, e um deles era engravidar. Porém, no momento em que decidimos, no final do ano de 2017, devido a problemas hormonais, não conseguimos. Neste meio tempo, Marcelo passou a apresentar alguns sintomas”, lembra. Foram muitas “idas e vindas” a médicos até que, em agosto de 2018, ele recebeu o diagnóstico de mieloma múltiplo, um câncer na medula, em um estágio bem avançado. “A notícia nos tirou o chão, mas sempre nos mantivemos firmes e com fé”, conta.
Marcelo enfrentou longas internações e, antes de iniciar a quimioterapia, foi informado de que o tratamento possivelmente afetaria a fertilidade. Como queria ter filhos, ele optou pelo congelamento de sêmen. No entanto, infelizmente, ele não chegou a realizar seu sonho.
“Quando a pandemia chegou, ele já estava em isolamento pela baixa imunidade. No entanto, todas as consultas de revisão que estavam agendadas, foram desmarcadas. Em consequência do atraso da manutenção, a doença voltou e avançou muito. No mês seguinte, ele já precisou ser internado e deu início ao tratamento com quimioterapias mais fortes. E foi durante a internação no hospital que Marcelo acabou contraindo a covid-19. No dia seguinte ao diagnóstico, ele já precisou ser transferido para a UTI e foi última vez que o vi com vida”, lembra Lizi. “No quinto dia, ele precisou ser entubado. Foram dez dias de entubação. Então, pela interrupção do tratamento e por causa da covid, ele acabou não resististindo. Naquele momento, perdi o chão. Mesmo sabendo da gravidade, eu nunca pensei outra hipótese a não ser ele ficar curado e voltar para casa”, lamentou.
A chegada de Ravi
“Foram meses de sofrimento, de não ter vontade de voltar para casa após o trabalho até que, num certo dia, eu lembrei que tinha aquela sementinha dele congelada. Pensei muito sobre os motivos de não dar seguimento à vida, já visto que era um sonho nosso. Entrei em contato com a clinica e marquei uma consulta”, conta. Então, em dezembro de 2020, Lizi passou pelo processo de fertilização in vitro. “Foram longos doze dias aguardando. Confesso que foram os mais longos da minha vida. E, finalmente, no dia 24 de dezembro, véspera de Natal, como presente, recebi o tão sonhado positivo”, disse.
“Em fevereiro deste ano, com 13 semanas de gestação, descobri que estava a caminho nosso tão sonhado menino: o nosso Ravi. Foi quando contei para toda a família. Foi uma grande emoção para todos, como um renascimento”, afirma.
No entanto, com 8 meses de gestação, Lizi passou por um grande susto. “Tenho uma nova data de nascimento. Sofri um acidente, capotei meu carro. Não avaliei ainda, mas acho que ele teve perca total, e eu só quebrei uma unha. No instinto, coloquei a mão por baixo do cinto. Cada vez tenho mais certeza que Marcelo e Deus estavam comigo”, contou. “Acabou um ciclo e iniciou outro, dando outro sentido a vida. Ter um pedacinho do Marcelo e o meu tão sonhado filho, está sendo uma luz. É a realização de um sonho”, finalizou.
Fonte: RevistaCrescer.Globo