A paranaense Elenir Tonon já era formada em Enfermagem quando, aos 60 anos, decidiu começar uma segunda graduação. O objetivo foi realizar o sonho de criança: ser médica.
Mesmo com as dificuldades enfrentadas na infância, a curitibana de família humilde enfrentou os obstáculos da vida e conseguiu investir em conhecimento.
“Eu falava para os meus pais que eu queria ser médica. Quando me formei me senti muito realizada e acreditei que um dia seria possível”, contou ao g1.
Elenir afirma que a trajetória acadêmica contou com muita garra e determinação, mas diz não haver justificativa para pensar que “é tarde” para começar a estudar.
A médica lamentou o episódio em que uma estudante de 45 anos, de uma universidade particular de Bauru (SP), foi hostilizada por outras três alunas da mesma instituição por ter mais de 40 anos. As universitárias disseram que a mulher deveria “estar aposentada”.
“Lamento muito pelo que ocorreu. A nossa população passa por uma carência na educação, que vem do berço, da falta de conhecimento, de cultura, faz com que pessoas façam essa discriminação”, comentou Elenir.
A curitibana se formou aos 65 anos e conta que no curso de medicina não foi discriminada pelos mais jovens, que a consideravam a mais experiente da turma.
“Nunca sofri nenhum preconceito por causa da idade. Muito pelo contrário, fui sempre muito bem recebida pelos colegas. Trocávamos ideias juntos. Me tratavam com muito respeito”, disse.
Realização do sonho
Elenir é aposentada pela Prefeitura de Curitiba, onde atuou por vários anos como enfermeira em dois hospitais antes de se formar como médica.
Com espírito aventureiro, sempre gostou de viajar e conhecer histórias de outros lugares. Em 2012, o marido dela faleceu, e ela acabou fazendo sozinha uma viagem por vários países planejada para fazer em casal.
“Durante a viagem fiquei bem reflexiva sobre a vida. Retornei e me senti vazia sem ele. A solidão foi muito grande”, disse.
Um dia, conversando nas redes sociais com uma amiga que estudava medicina no Paraguai, decidiu embarcar na realização do sonho. “Levei todos os meus documentos, me matriculei e, na outra semana, já estava cursando medicina”, contou.
Para dar o próximo passo na carreira, precisou abrir mão da vida confortável com a família em Curitiba, e viver em Foz do Iguaçu, no oeste do estado, para estudar no Paraguai.
Sem entender bem o espanhol, relutou para encarar os estudos com a ajuda de amigos que conquistou na universidade. Mas, seguiu em frente e, aos 65 anos, conquistou o sonhado diploma.
Vida de médica
Após a formação em medicina, a curitibana voltou para o Brasil e entrou para o Programa Mais Médicos, do Governo Federal.
Recém-formada, passou na avaliação e foi morar em Várzea Nova, no interior da Bahia, onde atuou por três anos e meio. Então, resolveu voltar para a capital paranaense ficar mais perto dos três filhos e dos netos.
Hoje, aos 69 anos, ela se diz realizada e grata pela trajetória. Mas, adianta não querer ficar parada por muito tempo e planeja voltar atuar, só que perto da família.
“Vou continuar me dedicando e lutando para novas conquistas”, destaca.
O próximo passo, segundo ela, é fazer a prova revalida, que reconhece os diplomas de médicos que se formaram no exterior e querem atuar no Brasil.