Desde que a pandemia chegou ao Paraná, há 130 dias, um pequeno porcentual da população mantém o isolamento social e muitos deles nem fazem parte do grupo de risco. Segundo levantamentos da In Loco, empresa de tecnologia que trabalha com dados de geolocalização de celulares, na semana passada, o índice de isolamento no Paraná foi de 34% a 40% entre segunda e sexta-feira. Levando em conta que antes de a Covid-19 avançar no Estado, entre 2 e 6 de março, o índice, medido pela mesma empresa, variava entre 28 e 30%, pode-se supor que somente entre 6 % e 10% dos paranaenses aderiram ao isolamento “mais radical” durante os últimos quatro meses.
Mas se esses ‘isolados convictos’, já cansados de ficar em casa, desistissem agora, isso faria diferença na propagação do vírus? Para a diretora de Atenção e Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), Maria Goretti David Lopes, sem o isolamento dessa parcela da população, a situação estaria muito pior. “Essas pessoas e famílias salvaram vidas — e não foram poucas. Se conseguimos segurar a curva da Covid-19 em 130 dias desde o início da pandemia no Estado e tivemos tempo de implementar melhorias no sistema de saúde, foi graças a essas pessoas”, afirmou ela, em entrevista ao Bem Paraná.
E agora, mais que nunca, quando o número de casos e mortes de coronavírus crescem no Estado, segundo ela, a importância do isolamento aumenta. Os dados do governo do Estado, da empresa Big Data, são mais otimistas e indicam que na semana passada a taxa de isolamento variou entre 49,4% e 50,4%, o que, segundo Maria Goretti, ainda é baixo pelo estágio da doença.
“Sempre que as pessoas voltam às ruas, de 14 a 21 dias depois, vemos a explosão de casos. Não tem segredo”, afirma ela. Segundo Maria Goretti, a Sesa ainda não tem informações sobre quando o Paraná chegará no pico e no chamado “platô” – quando o número de casos e mortes estacionam, para finalmente haver a queda de casos e a pandemia ser controlada. Para que a estabilização da pandemia seja confirmada é preciso que os números parem de crescer por pelo menos sete dias.
A superintendente da Secretaria Municipal de Saúde, Beatriz Battistella, também concorda com a importância da parcela da população que aderiu ao isolamento nestes 130 dias: “Uma vez que a única arma que temos para não nos contaminarmos e o vírus está circulando por todos os lugares, quem pode, está em home office e filhos em casa, deve ficar em casa. Principalmente neste momento em que os casos estão subindo e precisamos achatar a curva”.
A superintendente lembra que o isolamento é realmente cansativo, principalmente para quem está seguindo à risca das recomendações desde o início da pandemia: “Mas vai passar e esse momento é crucial, porque estamos próximos do pico de casos e precisamos resguardar o sistema de saúde para que ele possa atender a todos. Então toda a ajuda é muito importante.”
Quatro meses fechados dentro de apartamento em Curitiba
É justamente pensando naqueles que não têm na opção de home office, nos trabalhadores essenciais é que família Crocetti está isolada desde 15 de março, no apartamento de 50 metros quadrados no bairro Cotolengo em Curitiba. Daniele, 44 anos, advogada, e Irto, 48 anos, engenheiro civil, estão trabalhando em casa; a filha, Isabel, 7 anos, tem aulas online e se diverte dentro de casa dentro do possível. Nenhum deles faz parte do grupo de risco, mas nem pensam em deixar o isolamento antes que a pandemia seja controlada.
Daniele conta que saiu apenas três vezes neste tempo todo para resolver problemas profissionais, mas sempre de máscara, álcool gel e sem paradas. Nem mesmo ao mercado, a família vai. É tudo comprado online. “De forma geral, estamos enfrentando bem, eu sou habituada com home office, pois depois do parto continuei trabalhando em casa. Todo esse tempo nós três em casa e sem o auxílio da nossa funcionária, procuramos dividir as tarefas, mas confesso que se não relaxarmos um pouco e fizermos concessões como espaçar mais uma limpeza ou liberar uma tela para nossa filha, o estresse pode ser bem maior. É um momento excepcional”, explica Daniele.
Sobre a filha, a advogada diz que tem sido uma surpresa: “O pai tem um papel essencial no bem estar emocional dela, porque é um paizão, brincam o tempo todo. Além dos horários de brincadeiras, temos um horário de leitura e no sábado e domingo costumo fazer algo diferente, como uma comida caprichada, alugar um filme diferente, para diferenciar os dias da semana”.
Nem todos os dias são bons, é claro:“Muitos dias antes de dormir ela chora de saudade da família, dos amigos, mas mesmo triste, ela sabe que precisamos e ela mesma às vezes nos chama a atenção sobre a importância do isolamento e que vai passar. Também fica triste quando vê a criançada na rua brincando”.
Para a advogada, nada será como antes após a pandemia de Covid-19: “Não está fácil? Não mesmo, as inseguranças são enormes, mas aqui em casa entendemos que precisamos nos manter firmes no isolamento para preservar quem amamos, porque a gente faz pelo outro. Pelo profissional de saúde, pelos trabalhadores dos serviços essenciais, pelas pessoas que estão mais propensas a ter formas mais graves da doença e que precisam realmente sair. Eu me sentiria muito egoísta de correr risco e colocar quem em amo em risco porque não aguento mais ficar em casa”. (Bem Paraná)