A Justiça decretou falência de uma das empresas de Francisley Valdevino da Silva, conhecido como “Sheik dos Bitcoins”, investigado por suspeita de fraudes bilionárias envolvendo criptomoedas.
A decisão é da juíza Luciane Pereira Ramos, da 2ª Vara de Falências e de Recuperação Judicial de Curitiba.
No documento, a magistrada citou que a falência da empresa Rental Coin “tem efeito saneador ao retirar do mercado empresa através da qual teriam sido cometidas irregularidades que lesionaram número expressivo de credores”.
Francisley é suspeito de cometer crimes, desde 2016, ao comandar um esquema de pirâmide financeira disfarçado de aluguel de criptomoedas. Conforme a PF, cerca de 15 mil pessoas possuem dinheiro investido em empresas dele.
Uma operação deflagrada pela Polícia Federal no início de outubro, cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços ligados ao suspeito, onde foram apreendidos barras de ouro, dinheiro em espécie, joias, carros, relógios de luxo e outros itens.
Entre as possíveis vítimas do Sheik está Sasha Meneghel, que, segundo a PF, teve um prejuízo de cerca de R$ 1,2 milhão. A polícia destacou que na lista de vítimas também estão jogadores de futebol, que não tiveram os nomes revelados.
Em nota enviada pela defesa, Francisley atribuiu os problemas na empresa a “falhas em gestões passadas, as quais colocaram as empresas em delicada situação financeira, exigindo a adoção de medidas atípicas e urgentes”.
Falência da Rental Coin
Na decisão que decretou a falência da empresa Rental Coin, a magistrada nomeou um administrador judicial, que será responsável por buscar os bens que conseguir identificar e elaborar uma lista de credores.
Na sequência, os bens serão vendidos, e o resultado partilhado entre os credores. A empresa terá que entregar todos os livros contábeis.
A juíza estabeleceu prazo de 60 dias para que o administrador judicial avalie todos os bens e credores da Rental Coin, e para que faça a lista e um plano sobre como rentabilizar os bens. Depois disso, há o prazo de 180 dias para a venda dos bens listados.
A decisão cabe recurso.
Em nota o advogado de Francisley afirmou que o pedido de Recuperação Judicial ainda está em curso e que o plano de pagamento solicitado pela juíza será apresentado no prazo pertinente. Além disso, a defesa disse que todas as medidas judiciais estão sendo tomadas.
Investigação
A Polícia Federal informou que, aos clientes, as empresas de Francisley diziam ter vasta experiência no mercado de tecnologia e criptoativos e possuir uma grande equipe que faria operações de investimento com as criptomoedas para gerar lucros.
A investigação mostrou, entretanto, que nunca existiu atividade comercial pelo grupo, e que o dinheiro arrecadado era gasto por Francisley.
Segundo o delegado Filipe Hille Pace, Francisley responde às investigações em liberdade, com medidas cautelares alternativas à prisão, como proibições sobre não poder deixar o município ou o país, e ter que entregar o passaporte para a Justiça Federal.
Ele também não pode mais exercer nenhuma atividade ligada às empresas, ou conversar com investigados, testemunhas ou vítimas.
Quem é o Sheik
Segundo a polícia, Francisley se apresenta como Francis Silva e é natural de São Paulo, mas se estabeleceu em Curitiba. Na capital paranaense ele desenvolveu uma empresa do ramo da tecnologia.
De acordo com a PF, o suspeito possui mais de cem empresas abertas no Brasil vinculadas a ele. A investigação indica que ele usava o dinheiro arrecadado nas fraudes para a compra de imóveis de alto valor, carros de luxo, embarcações, roupas de grife, joias, viagens, aviões e para fazer doações a igrejas.
‘Modus operandi’
A PF disse que o suspeito fazia grandes doações para igrejas, fator que, segundo a PF, alavancou a atuação do golpe.
“Ele se inseriu em um meio religioso e conseguiu que grandes representantes desse meio investissem e virassem sócios minoritários daquela plataforma. Dessa forma, ele arrecadava clientes desse meio religioso”, explicou Filipe Hille Pace, delegado da Polícia Federal.
Ainda conforme o delegado, o esquema começou a ruir no fim de 2021, quando Francisley não conseguiu mais pagar o que devia aos clientes.
O delegado da PF disse que a investigação contra o suspeito começou em março deste ano, depois de um pedido de cooperação policial internacional feito pela Interpol.
O pedido informava sobre uma investigação que identificou uma organização criminosa, liderada por Francisley, em Curitiba. A investigação apontou que a quadrilha aplicava golpes em pelo menos onze países.
A investigação apontou que alguns membros da família de Francisley também se envolveram nas fraudes. De acordo com a PF, os familiares eram funcionários das empresas, e se apropriavam dos valores investidos pelas vítimas.
Fonte: G1.