Dois dedos de prosa e o jeito de falar caipirês. “Eu fui ator, cantador, fui contador de causo, como agora.”
Rolando Boldrin costumava dizer que era um ator, um ator que canta, declama poesias e conta histórias. Boldrin nasceu em 1936, em São Joaquim da Barra, a 385 km da capital paulista. Aos dois anos, foi com os pais para a vizinha Guaíra. Lá se apaixonou pelo circo. Foi o sétimo de 12 filhos. Com um dos irmãos, formou a primeira dupla musical, aos 12 anos.
Na adolescência, foi para São Paulo. Trabalhou como garçom e sapateiro. Aos 21 anos, foi contratado como figurante na extinta TV Tupi.
Dono de um vozeirão inconfundível, atuou nas TVs Tupi, Excelsior, Record e Bandeirantes. Na primeira versão da novela “Mulheres de areia”, em 1973, contracenou com Carlos Zara. Ele atuou em 32 novelas.
Uma das atrizes com quem mais fez par romântico foi Irene Ravache. “Ela falou: ‘Eu fiz tantas vezes a mulher do Rolando Boldrin que eu já estou pedindo pensão.’”
Boldrin fez três filmes, o mais recente, de 2017, “O filme da minha vida”, de Selton Mello.
Ele escreveu três livros com histórias reunidas ao longo dos mais de 60 anos de carreira. Enquanto atuava, fazia música – a sua paixão. Compôs mais de 170 canções.
Seu primeiro casamento foi com a cantora Lurdinha Pereira, com quem teve uma filha. Em 2008, se casou com Patrícia Maia Boldrin, cenógrafa e produtora cultural. A música regional foi a sua principal marca.
Quando menino, tinha fascínio pelas coisas do Brasil. Quando cresceu e chegou aos 44 anos, alcançou o grande projeto de vida: um programa com músicas e causos de um país orgulhosamente caipira. A estreia do “Som Brasil”, na Globo, foi em agosto de 1981. Foi quando ele se tornou diretor musical e apresentador. Por três anos, Rolando Boldrin emprestou carisma, simpatia e talento ao programa.
“De toda a minha carreira, o que mais me gratificou mesmo foi o Som Brasil.”
A música de abertura “Vide, vida marvada” foi escrita e interpretada por ele.
“Som Brasil” era o programa das manhãs de domingo de milhares de famílias brasileiras. Misturava música, histórias, poemas. Era Boldrin quem selecionava os causos e os artistas que iam se apresentar.
Boldrin teve programas semelhantes no SBT e na Bandeirantes. Em 2005, foi para a TV Cultura. Desde então, “Senhor Brasil” foi a cara dele. Um artista sensível, simples, que deixa a sabedoria das coisas da terra.
O velório vai ser nesta quinta-feira (10) na Assembleia Legislativa de São Paulo.
Fonte: G1.