Ouvir histórias, assistir apresentações teatrais ou relaxar através da prática da medicina tradicional do reiki são algumas das possibilidades oferecidas a pacientes, familiares e profissionais da saúde por voluntárias que atuam em hospitais de Curitiba.
Neste domingo (28), Dia Nacional do Voluntariado, o g1 conta a história de três paranaenses que dedicam horas por semana com ações que trazem alento a quem vive o dia a dia de ambientes hospitalares. Veja relatos de histórias marcantes que as voluntárias vivenciaram no vídeo acima.
Contação de histórias
Construir uma família, criar os filhos e cuidar da casa eram sonhos realizados por Juçara Margarida Vistuba, 69 anos. Mas ser protagonista da própria história era um sonho ainda maior. Ela encontrou essa realização pessoal há 13 anos com a contação de histórias,
Foi como voluntária no Hospital Universitário Cajuru e Marcelino Champagnat, em Curitiba, que ela conseguiu encontrar um novo sentido para a vida.
“Um dia ajudando numa instituição eu vi uma jovem que daria um curso de contação de histórias, e eu sempre adorei hospitais. Eu não tinha formação de médica, enfermeira, como faço para entrar em um hospital? Para conviver com esses seres maravilhosos? Essa moça me deu a oportunidade de fazer o curso e foi a oportunidade que eu tive de realizar meu sonho”, conta a voluntária aos 69 anos.
Logo após o curso, ela passou a visitar as alas médicas e a se dedicar à leitura aos pacientes. Porém, um fato inesperado parecia ter colocado fim ao sonho dela.
Juçara foi assalta em 2010 quando voltava para casa após atividades com os pacientes. Os criminosos derrubaram ela, que teve uma forte pancada na região próxima aos olhos.
Foram meses de isolamento pelo trauma e um problema de visão severo que a impossibilitava de ler.
Mas a saudade das alas hospitalares foi mais forte e, meses após o incidente, com a ajuda de uma amiga, ela voltou a trazer sorrisos e esperança aos pacientes. As histórias passaram a ser contadas de uma forma diferente.
“Comecei a contar oralmente as histórias que antes eu lia antes, mas que eu gravei no meu coração, porque quando vou ler uma história, eu tenho que entrar nela. Eu comecei a contar do meu jeito, e eles adoram. Fui entrando neste mundo e passo a eles o que toca meu coração”, contou emocionada.
Para Juçara, cada demonstração de carinho dos pacientes faz com que ela crie ainda mais amor pelo voluntariado.
“Adoro entrar na UTI, porque ali eles estão muito debilitados, fragilizados. Quando eles me veem enfeitada, com jaleco e chapéu cheios de coisinhas, já sabem que eu sou uma pessoa diferente. […] Olha, saem lagrimas dos olhos, eles gradecem, sorriem, e um sorriso deles ou uma lágrima de agradecimento para mim é o melhor pagamento que tem”, descreveu Juçara.
‘Doutores palhaços’
Quem também teve a vida transformada por meio do voluntariado foi Caroline Alcova, 32 anos. O despertar foi em uma visita hospitalar a uma criança doente, em 2007.
Caroline relembra quando foi a um hospital com uma tia, que era voluntária. Lá, elas levaram a menina doente para uma área com brinquedos da unidade. Em uma das paredes ela leu a seguinte frase: “Seja voluntário”.
A experiência foi tão marcante para ela, que o voluntariado se tornou um objetivo de vida.
“Eu fiquei com aquele sonho, mas eu tinha 15 anos e não pode entrar no hospital com essa idade. Então, eu guardei esse sonho até que eu completasse 17, que foi quando eu encontrei um grupo que me aceitasse. Com essa idade comecei no hospital e nunca mais saí”, descreveu a voluntária.
Desde 2009 ela e um grupo levam alegria aos leitos hospitalares através de apresentações teatrais com os “doutores palhaços”. Recentemente ela passou a integrar uma ONG e agora dedica tempo integral às ações em sete hospitais da capital.
A peça mais recente lançada pelo grupo e apresentada aos pacientes se chama “Florescer em tempos de seca”.
“É uma peça montada para falar sobre esperança, resiliência, sobre permanecermos firmes, ainda que haja mudança, haja seca, que é o que eles estão vivendo naquele momento. […] A peça é a mesma, o roteiro é o mesmo, o texto é o mesmo, mas cada quarto se torna único, porque o paciente faz parte da peça. […] Eu não tenho palavras para dizer como é emocionante, sabe? Eles saem tocados, emocionados, choram”, relatou Caroline.
No percurso do voluntariado ela conheceu o marido, que desde 2015 passou a atuar com ela, levando as apresentações aos leitos hospitalares e outras instituições. A trupe fica completa quando as filhas do casal, de cinco e dois anos, podem participar de apresentações.
Para Caroline, muito além de dedicar tempo a outras pessoas, o voluntariado representa transformação.
“Na prática, fazer a diferença no mundo de alguém – não seria nem no mundo todo – é o que a gente precisa, é o que eu creio que faz falta no mundo. A gente tem essa consciência de que ‘eu preciso fazer a minha parte’, e não interessa o que os outros estão fazendo, eu preciso fazer a minha parte. O voluntariado seria isso para mim”, afirmou Caroline.
Reike nos hospitais
Edilamar Machado, de 56 anos, é formada em Gestão Ambiental, mas decidiu investir nos conhecimentos da medicina tradicional oriental. Com a formação completa, ela passou a oferecer sessões de reiki – uma prática da medicina tradicional oriental que usa luzes e música relaxante – para projetos sociais de igrejas.
A partir dessa experiência, ela pensou que poderia também ofertar o serviço aos profissionais, familiares e pacientes em hospitais, como uma forma de diminuir a tensão e o cansaço que o ambiente pode oferecer.
“Nos hospitais, onde eles precisam desse amor incondicional, dessa cura física, essa cura mental”, afirmou a profissional.
Desde 2018 ela integra uma equipe multidisciplinar que atende pessoas que procuram o serviço na unidade, de forma totalmente gratuita. Para ela o voluntariado é uma forma de “amor incondicional pelo próximo”.
“Como que eu me sinto? Realizada. É um sentimento que só quem está lá vai entender, porque você saber que pode auxiliar aquela pessoa a se sentir melhor, mais feliz, é um sentimento de realmente você trazer um amor incondicional mesmo. A gente deixa as nossas tarefas, não de lado, mas a gente tem aquele sentimento para cuidar do outro. Eu acredito que isso seja um sentimento, assim, de ser humano mesmo, de trazer a diferença nesse meio que a gente vive”, afirmou Edilamar.
Fonte: G1