O agrotóxico é uma ferramenta de trabalho comum na agricultura, mas esses produtos podem ser perigosos e muitas vezes são usados de maneira errada. De 2007 a 2017, data do último levantamento oficial, foram notificados cerca de 40 mil casos de intoxicação aguda por causa deles. Quase 1.900 pessoas morreram.
O Paraná é o estado com o maior número de casos relatados – e também o que tem o sistema mais eficiente de notificações. Muitas comunidades paranaenses estão se organizando para tentar se livrar dos efeitos dos venenos agrícolas. Em alguns casos, ele chega pelo ar.
CORTINAS VERDES. A regra entrou em vigor no final de 2017 e determina que os agricultores que quiserem produzir perto de núcleos habitacionais têm que implantar “cortinas verdes”. Cortinas verdes são duas fileiras de árvores, uma arbórea e uma arbustiva, para o controle do agrotóxico. Elas têm que ser implantadas há 50 metros da divisa da propriedade com o núcleo urbano.
Luziana é um dos primeiros municípios do Paraná a fazer valer uma lei que impõe regras para o uso de agrotóxicos ao redor da cidade.
A regra entrou em vigor no final de 2017 e determina que os agricultores que quiserem produzir perto de núcleos habitacionais têm que implantar “cortinas verdes”.
JURANDA. Nunca usou proteção
Valdir Furtado, 62 anos, lida com lavoura desde a infância. No sítio de 24 hectares que tem em Juranda, começou plantando algodão e depois soja e milho. Os agrotóxicos sempre fizeram parte da rotina da propriedade. E ele reconhece que nunca usou equipamento de proteção.
Nos tempos do algodão, aplicava os produtos com pulverizador costal. Eram venenos líquidos e em pó.
Um dia, abriu a tampa da plantadeira em movimento, para checar se as sementes estavam caindo direito, e o veneno atingiu seus olhos. Ele perdeu 70% da visão no olho esquerdo e 30% no direito.
CAMPO MOURÃO. Na frente do hospital
A Santa Casa, que abriga também um centro de tratamento de câncer e uma maternidade, fica em frente a uma imensa lavoura que também usa agrotóxico.
O Ministério Público está notificando os agricultores sobre uma lei que a cidade tem desde 1997, que proíbe a aplicação de veneno a 100 metros de qualquer núcleo habitacional.
A fazenda perto da Santa Casa pertence a José Luiz Gurgel e ao filho dele, Luiz Gustavo, ambos advogados. Segundo eles, a área onde está a o hospital pertencia à propriedade e foi doada pela família.
Luiz Gustavo não concorda com a proibição: “O agrotóxico que se passava aqui em hipótese alguma causou prejuízo para qualquer criança que nasça aqui. Os meus filhos nasceram aqui na Santa Casa”.
Apesar disso, ele afirma que cumprirá a lei. “Nós vamos trabalhar 100% com produtos orgânicos, sem agrotóxicos”, afirma. “Se, infelizmente, nós tivermos alguma praga que não se mate sem agrotóxicos, nós vamos ter que tombar a terra, acabar com a produção e depois cobrar, logicamente, de quem for necessário”, diz.
É possível produzir sem agrotóxico?
Na safra 2017/ 2018 o país produziu cerca de 228 milhões de toneladas de grãos. E consumiu quase 500 mil toneladas de agrotóxicos em 2017, segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
“O Brasil é um grande usuário de agrotóxicos, sim, porque, de fato, nós temos uma agricultura que é uma das maiores do mundo. Então, nesse sentido, é compatível”, diz o agrônomo Marcelo Morandi, chefe da Embrapa Meio Ambiente.
Ele explica que o modelo de agricultura intensiva, praticado no mundo todo desde o final da Segunda Guerra mundial, fez crescer a produção global de alimentos. E trouxe junto com ele a necessidade de combater pragas e doenças que atacam as lavouras.
A intoxicação por veneno é tema de um especial do Globo Rural que começou a ser apresentado hoje domingo, 31 e continua no próximo domingo, 6 de abril.
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