O caso da criança encontrada morta na Praia do Pina intrigou funcionários do IML, pois o corpo ficou no necrotério por 11 dias e nenhum parente foi fazer o reconhecimento.
No local, ele foi questionado sobre a calça comprida que vestia na noite do crime e relatou que levou para uma lavadeira no bairro do Bode, vizinho ao Pina, na Zona Sul do Recife.
À polícia, essa lavadeira contou que a calça estava suja de sangue e que Arlindo Silva pediu pressa na lavagem. A calça foi recolhida e levada para o Instituto de Polícia Técnica para exame.
No mesmo local, os peritos analisavam o lenço, os chinelos, a blusa e o cinto encontrados em uma área próxima de onde estava o corpo da criança. O agente de polícia que prendeu Arlindo Silva declarou que, no momento da prisão, o suspeito estava sem cinto.
“Arlindo Silva permanece recolhido ao xadrez da Secretaria da Segurança, negando terminantemente ser o autor do crime, inclusive afirmando que não reside nesta capital. O delegado de homicídios, Sr. Artur de Freitas, não permite que o suspeito seja fotografado enquanto não fica provada sua participação no assassinato”, disse o “Diario de Pernambuco”, em 26 de junho de 1970.
O que apontou a perícia
O caso da “Menina Sem Nome” intrigou os funcionários do Instituto de Medicina Legal (IML). Eles mantiveram o corpo no necrotério por 11 dias, mas nenhum parente da vítima apareceu para fazer o reconhecimento.
Assim que o corpo chegou ao IML, teve início a perícia tanatoscópica. Os médicos legistas mediram o corpo da menina, que tinha 1,23 centímetros de altura. Na ausência de documentos de identificação, eles estimaram a idade em 8 anos. Também concluíram que ela havia sido brutalmente assassinada entre 20h e 21h do dia 22 de junho de 1970.
Os exames não evidenciaram vestígios de violência sexual. Revelaram que a causa da morte da criança foi “asfixia por estrangulamento e sufocação”.
- O assassino usou uma corda para apertar o pescoço da menina, dando três voltas e amarrando com um único nó na nuca da vítima;
- A vítima também teve o rosto pressionado contra a areia;
- A análise do nariz e de órgãos como laringe, traqueia e pulmão mostrou a presença de areia de praia em todos eles;
- No pulmão, não foi detectada a presença de água, o que afastou a hipótese de afogamento;
- Na região do pescoço e das costas, havia vários ferimentos produzidos com uma faca, que foram feitos com a menina ainda viva, “para torturar e atemorizar”, de acordo com o laudo tanatoscópico.
“O exame cadavérico não constatou que ela tenha sido brutalizada pelo criminoso, mas descobriu vestígios de tentativa de sedução. O corpo da criança estava visivelmente estragado por golpes de faca. Em volta de seu pescoço, foi encontrada uma corda, e os braços estavam amarrados. Estava quase despida, vestindo apenas calça curta de adulto”, disse o “Diario de Pernambuco”.
O laudo também apontou que a criança não teve condições de se defender. Sobre o exame das vísceras, os legistas destacaram que a vítima estava com o “estômago contendo grande quantidade de alimentos, constituídos de farinha de mandioca, feijão, verduras e alimento em conserva, ainda não digeridos”.
A informação sobre a presença de um alimento em conserva no estômago da criança confirma o testemunho de Williams Cardoso, morador do Pina entrevistado pela TV Globo e pelo g1. Ele, que nasceu e cresceu no bairro, foi atraído pela presença de muita gente na praia quando o corpo foi encontrado.
“Tinha uma lata de sardinha do lado, como se [ela] tivesse comido sardinha, antes do acontecimento. Estava aberta e vazia, ainda melada de óleo”, contou Williams.
No dia 27 de junho de 1970, o “Jornal do Commercio” informou que a polícia havia recebido de uma testemunha do crime a informação de que o suspeito comeu sardinhas perto do local onde o corpo da criança foi encontrado.
Fonte: G1.